Professor Thiago Moreira (UECE/FECLI) publica livro sobre a atuação do Banco Mundial na educação brasileira

21 de maio de 2025 - 16:22

 

Por meio da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com financiamento da CAPES, foi publicado o livro *Brasil, de “experiências de catálogo” a um “laboratório de ação educacional”: a concepção de boas práticas como instrumento de gestão do Banco Mundial para a Educação*, de autoria do professor Thiago Moreira Melo Silva, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A obra resulta de sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIFESP, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Carlos Novaes, e agraciada com o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Educação defendida na EFLCH-UNIFESP em 2023, concedido pela referida instituição.

O livro oferece uma contribuição singular e profundamente analítica ao campo das políticas educacionais, ao investigar o papel do Banco Mundial na formulação e disseminação de diretrizes para a educação na periferia do capitalismo.

“Embora na atualidade o Banco Mundial pareça ter perdido visibilidade no campo educacional para a OCDE, ou até mesmo para uma UNESCO “domesticada”, sua capacidade de capilarização e convencimento permanecem incontestes em face das políticas efetivamente desenvolvidas em âmbito nacional na maior parte da periferia do capitalismo. Isso só se resulta possível pela construção de uma complexa malha de
agências e agentes que colaboram na elaboração, difusão, tradução e adaptação de orientações de políticas definidas de acordo com os interesses e a visão programática do Banco Mundial, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, legitimidade e capilaridade, e contribuindo para a ilusão da existência de um discurso único e global sobre educação, fora do qual só restaria irracionalidade, incompetência e/ou autoritarismo.

Mesmo que exista hoje uma considerável produção acadêmica sobre a atuação dos organismos internacionais, e particularmente do Grupo Banco Mundial, no âmbito das políticas educacionais, no mundo e no Brasil, muitos aspectos ainda carecem de investigações específicas. Um deles se refere às formas concretas de atuação, isto é, às maneiras correntes como o Banco constrói e articula suas recomendações de política,
partindo de experiências concretas desenvolvidas localmente a partir de condições específicas em diversas regiões do globo.

O livro de Thiago Moreira resulta, nesse sentido, em uma contribuição fundamental para a superação dessa lacuna. O autor se propõe a demonstrar como funciona o processo de convencimento desenvolvido pelo Banco Mundial para pautar a educação na periferia do capitalismo, por meio de um mecanismo específico que é a disseminação da concepção de “boas práticas” em educação. A propagação dessa concepção contribui para exercer um “efeito de demonstração” ao mesmo tempo que legitima e reforça a difusão do receituário de recomendações elaboradas pelo Banco para esses países como forma de disputar a hegemonia. Dessa forma, e a partir de volumosa pesquisa documental, o texto registra que as ações certificadas pelo Banco como “boas práticas” foram desenvolvidas a partir das recomendações dos próprios organismos internacionais e aparecem associadas a uma lógica gerencial, própria de uma perspectiva social de regulação pelo mercado. Por sua vez, essas ditas “boas práticas”, modelares e replicáveis, se ancoram em experiências desenvolvidas e/ou divulgadas por uma extensa rede de intelectuais e aparelhos privados de hegemonia que operam como sócios locais do Banco, realizando a mediação (por intermédio da produção de sentidos, recontextualização, tradução e adaptação) entre o global e o local. Este processo contribui para capilarizar as prescrições de políticas, apresentadas como repertórios de práticas validadas pela experiência e por um corpo de expertos de reconhecimento global.

Esses espaços de experimentação, como laboratórios de reforma, se espalham pelo mundo afora e incluem de forma privilegiada o Brasil que, com sua dimensão continental e sua diversidade, fornece um campo ímpar para avaliação de práticas educacionais monitoradas pelo Banco. A compreensão do papel do Brasil como “laboratório de ação educacional” é explorada, ainda, no último capítulo do livro, oferecendo evidências da articulação deste organismo internacional com algumas fundações empresariais que agem, ao mesmo tempo, como ponto focal e caixa de ressonância para as recomendações veiculadas na nova agenda global para a educação. Destaca-se, nesse sentido, a nada surpreendente articulação entre o Banco Mundial e organizações empresariais, assim como a circulação de projetos e ideias, por intermédio de mecanismos de “porta giratória” que facilitam o deslizamento incessante de intelectuais e consultores entre os espaços público e privado.

Por tudo o que foi apontado, a tese de doutorado agora transformada em livro resulta em uma contribuição original e relevante ao campo de estudo das políticas educacionais, pois demonstra alguma coisa que muitas vezes é somente enunciada: o processo capilar de construção de “evidências” por parte dos organismos internacionais, e o faz a partir de um volumoso percurso documental que, pelo caráter organizado e sistematizado da apresentação também serve de referência para outros pesquisadores e interessados no tema. Tudo isso num texto bem escrito, bem-organizado, enxuto e de leitura instigante que, sem dúvida, se tornará referência para aqueles que pensam a educação numa perspectiva crítica e comprometida com a emancipação humana”.

Acesse o livro no link: https://repositorio.unifesp.br/items/6aa80a6d-27e2-4c40-a3f7-9258f86b6dc2