Nota de repúdio pelo plano de extinção da Secretaria Municipal de Cultura de Iguatu-CE
19 de janeiro de 2021 - 12:47 ##absurdo ##Extinção ##secretariadecultura #Iguatu
Em nome da comunidade que compõe a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI (tanto na unidade iguatuense como na unidade descentralizada de Mombaça, onde é ministrado o curso de Artes Visuais da Fecli), vinculada à Universidade Estadual do Ceará (UECE), gostaríamos de expressar nossa preocupação, nossa indignação e nosso repúdio ao propósito de extinção da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo pela gestão recém reeleita para a prefeitura municipal de Iguatu-CE, chefiada por Ednaldo Lavor. Tal intenção foi veiculada, como muitos habitantes e conhecedores da região Centro-sul do Estado já sabem, recentemente, em meios de comunicação variados.
Conforme as notícias divulgadas, as ações culturais de Iguatu seriam absorvidas pela Secretaria Municipal de Educação. Embora se possa supor aí uma tentativa de articulação entre ações educacionais e culturais, algo justificável, sem dúvida, consideramos insuficiente que uma área tão importante para o desenvolvimento e a manutenção de uma sociedade humana como é a cultura não disponha de um órgão de gestão própria no interior da administração local em uma cidade do porte de Iguatu.
Conforme certa visão imediatista e equivocada, mas infelizmente muito comum no contexto da sociedade capitalista em que vivemos, a produção e a difusão cultural seriam práticas supérfluas e mesmo nocivas à vida individual e coletiva, principalmente se consideradas sob o viés obscurantista e autoritário que voga com lamentável prestígio na política e na sociedade
brasileiras atualmente.
No entanto, uma noção básica de história da humanidade, desde o início de seus processos civilizatórios, sem contar a observação cotidiana testemunhável por todas e todos aqueles que desempenham funções profissionais ou amadoras de feição cultural, indica o caráter indispensável do usufruto de bens e ações culturais diversificadas para a aquisição de conhecimento, para o desenvolvimento individual emocional, cognitivo e imaginativo e para a instauração efetiva de uma atitude crítica (ou seja, questionadora, avaliadora, madura, adulta) e cidadã (ou seja, participativa, partilhadora, democrática, inclusiva) em uma sociedade qualquer.
Alega-se, entretanto, que muitas pessoas, mundo afora, levam existências inteiras sem o benefício da estimulação cultural e que isso não as afetaria de modo algum. Porém, percebemos que, se a falta de contato com produções culturais diversas não impede o funcionamento orgânico regular do corpo humano, ela acarreta uma concretização pobre, restrita e insuficiente das potencialidades humanas gerais, especialmente se pressupomos a importância da luta permanente por um mundo melhor, mais justo, mais igualitário, com mais oportunidades de vida satisfatória para um maior número possível de cidadãos.
Pelo que foi exposto acima, a intenção aqui referida se mostra alarmante. Não concebemos palavra mais adequada para defini-la. Acreditamos ser indispensável que os habitantes de Iguatu tenham a opção e a disponibilidade de um aparelho de produção e difusão cultural municipal que os estimule intelectualmente e os entretenha ludicamente, principalmente em um município em que, sabe-se, é enorme a quantidade de artistas (atrizes e atores, cantoras e cantores, musicistas, cineastas, escritoras e escritores etc.) e de grupos de criação e divulgação artísticas. Município onde nasceram Eleazar de Carvalho e Humberto Teixeira. E se a prefeitura municipal de Iguatu plantasse mais sementes pelas quais pudéssemos ter, um dia, mais e mais Eleazares e Humbertos fazendo arte consistente e mobilizadora, em vez de dificultar esse processo? Ressaltamos, ainda, a importância de não só manter em atuação uma Secretaria Municipal de Cultura, mas também que tal setor da administração local pense e pratique políticas culturais mais efetivas, para o município, que as observadas nos últimos anos (muitas vezes, restritas à realização de micaretas e festejos semelhantes ou ações esparsas, sem continuidade, apesar de algumas conquistas institucionais sem dúvida relevantes). Não estamos falando de favores, mas do que entendemos como obrigação governamental. Confiamos na seriedade com que o poder público local, representado pelo prefeito e pelos vereadores da cidade, certamente apreciaria ser visto e, portanto, no atendimento a uma reivindicação que, como vem sendo presenciado, prolifera-se em vários textos e manifestações similares a esta no âmbito de Iguatu.
18 de janeiro de 2021.
Direção da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI