Grupo de pesquisa da UECE/FECLI desenvolve trabalhos de pesquisa na região Centro-Sul.

7 de junho de 2019 - 21:22


 

07 de Junho de 2019 17:28

 

 

No mês de maio, próximo ao encerramento do semestre 2018.2, da Universidade Estadual do Ceará, campus Iguatu, o grupo Ecologia e Conservação de Ecossistemas (ECOEM), do curso de Ciências Biológicas, através de alguns dos seus integrantes apresentou projetos e monografias.

 

 

O grupo ECOEM trabalha com duas vertentes, uma ecológica e outra etnoecológica. A primeira aborda processos ecológicos que envolvem interações entre plantas e animais, no contexto de áreas de caatinga que sofreram impactos da agricultura e da pastagem, procurando entender de que forma tais áreas restabelecem a sua biodiversidade e processos ecológicos. A segunda vertente trabalha a relação entre comunidades tradicionais e os recursos naturais ofertados pelo meio ambiente. Nesse sentido, o grupo investiga a percepção, os conhecimentos e os usos por moradores de uma comunidade rural sobre plantas e animais e sua interação. 

 

 

Todas as pesquisas científicas foram desenvolvidas em dois locais de estudos. O primeiro localiza-se em uma área de caatinga pertencente ao Instituto Federal do Ceará, campus Iguatu (Cajazeiras). Neste local apresentam áreas com diferentes manejos. No manejo de pastagem (Foto A) foi realizada a retirada da vegetação nativa e inserida uma espécie vegetal utilizada para alimentação animal; no manejo de raleamento (Foto B) foi retirado as plantas com diâmetro do caule inferior a 10 cm; a terceira e última área (Foto C) é uma área de mata conservada que não foi submetida a impactos agropastoris há mais de 40 anos.

 

 

(Imagem das três áreas de caatinga onde são desenvolvidos os estudos: (A) área de pastagem; (B) área raleada e (C) área conservada. Foto: Marlos Dellan de Souza Almeida)  

 

O segundo local de estudo situa-se na comunidade rural do Itans, Iguatu–CE. Localizada próxima às margens do rio Jaguaribe, a comunidade apresenta um relevo plano e solos férteis, abrigando cerca de 60 famílias que sobrevivem, principalmente, da agricultura e pecuária. No período chuvoso, as águas do rio são utilizadas para momentos de lazer e pesca. 

 

 

(Foto tirada na comunidade do Itans, Iguatu (CE).  Foto: Jefferson Thiago Souza)

 

 

(Integrantes do ECOEM entrevistando moradora do Itans, Iguatu (CE). Foto: Jefferson Thiago Souza.)

 

As investigações do ECOEM geraram um conjunto de trabalhos acadêmicos desenvolvidos por alunos do curso de ciências Biológicas. Iniciando pela proposta do estudo “Subi nos muros dos meus quintais: aracnídeos ainda causam medo?” de autoria de Joice Palácio e orientado pelo professor Célio Moura Neto, que abordará a percepção dos moradores do Itans e de estudantes do ensino básico da cidade de Iguatu sobre aranhas e escorpiões, no que se refere à importância desses animais para a natureza, a ocorrência de acidentes e suas formas de tratamento, tanto na comunidade rural, quanto nos hospitais da cidade. 

 

 

(Apresentação de Projeto de Joice Palácio. Foto: Mikael Alves de Castro.)

 

 

Argiope argentata (Fabricius, 1775) (aranha-de-prata). Foto: Joice Palácio. 

 

Novos olhares e perspectivas sobre a biodiversidade da avifauna de Iguatu” é o tema de projeto do estudante Viturino Willians Bezerra, o qual buscará investigar o efeito dos impactos, conhecimento e usos pelo homem, bem como a influencia dos períodos de chuva e seca sobre as espécies de aves em áreas de caatinga. Este estudo é orientado pelo Professor e coordenador do ECOEM Jefferson Thiago Souza.

 


 

 (Apresentação de projeto de Willians Viturino. Foto: Mychelle de Sousa Fernandes)

 

 

 

Hemitriccus margaritaceiventer (d’Orbigny & Lafresnaye, 1837) (Sebinho-de-olho-de-ouro). Foto: Mychelle de Sousa Fernandes.

 

Outro estudo orientado pelo professor Jefferson e que resultou na monografia de José Vinicius teve como objetivo verificar o efeito da interferência humana em áreas de caatinga sobre os polinizadores em duas espécies de plantas, a Senna uniflora (Mill.) H.S.Irwin & Barneby (mata-pasto) e a Blainvillea spp. De maneira complementar buscou identificar de que forma a população conhece o processo de polinização e as espécies envolvidas, bem como sua importância para o restabelecimento da biodiversidade. “Ecologia da polinização em áreas manejadas da caatinga e conhecimento tradicional sobre polinizadores em uma comunidade rural” é o título da monografia. 

 

 

(Apresentação da monografia de José Vinicius. Foto: Mikael Alves de Castro.)

 

Na monografia “Pássaros e sementes poderiam ensinar pessoas sobre o impacto na dispersão de sementes e frugivoria na Caatinga?” de autoria de Mychelle Fernandes e orientação do professor Jefferson, foi abordado o efeito de manejos e das estações climáticas na dispersão de sementes e no consumo de frutos por pássaros, como também a percepção da comunidade rural sobre esses temas. Devido sua maioria serem ervas, neste estudo foram registrados um total de 44.420 sementes/ano, sendo estas mais numerosas na estação chuvosa e no manejo de pastagem,. Além disso, foram observadas 14 espécies de pássaros que se alimentam do fruto e/ou da semente da Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillet (imburana-de-cambão), sendo as mais expressivas a rolinha–de-asa-canela (Columbina minuta-Linnaeus, 1766) e o suiriri (Tyrannus melancholicus-Vieillot,1819). A comunidade rural apresentou uma percepção considerável sobre a interação entre aves e plantas, de tal modo que citaram 31 espécies de pássaros e 57 espécies de plantas, as quais apresentaram algum tipo de uso pela comunidade.    

 

 

 

(Apresentação dos alunos José Vinicius e Mychelle Fernandes acompanhados da banca avaliadora das monografias. Da esquerda para direita: Célio Moura, José Vinicius, Jefferson Thiago, Mychelle Fernandes e Thiago Amorim.)

 

 Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) (gralha-cancã) Foto: Mychelle de Sousa Fernandes. 

 

 

Fruto da Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillet (imburana-de-cambão). Foto: Mychelle de Sousa Fernandes. 

 

Por último e paralelamente as atividades do ECOEM, a integrante Carla Nathália, orientada pela Professora Renata Fernandes de Matos, investigará o conhecimento sobre a alimentação dos moradores da comunidade do Itans, identificando se há existência de produção e consumo de alimentos livres de agrotóxicos. Essas informações serão trazidas pelo trabalho “Conhecimento, produção e consumo de alimentos orgânicos na comunidade Itans, em Iguatu/CE”, 

 

 

(Apresentação da aluna Carla Nathália acompanhada da banca avaliadora do projeto. Da esquerda para dieita: Wandresa Francelino, Renata Fernandes, Carla Nathália e Môngolla Freitas. Foto: Thaisy Alencar Balbino.) 

 

Todos os trabalhos realizados pelo grupo ECOEM investigam processos ecológicos naturais levando em consideração os aspectos culturais e sociais. Nestes estudos traça-se um paralelo entre a relação das pessoas com as espécies e processos investigados como forma de entender a complexa ligação entre homem e meio ambiente, na busca por soluções para os problemas ambientais contemporâneos. Para tal entendimento é necessário não se restringir apenas aos muros dos sistemas educacionais formais, e sim permear em ambientes onde o conhecimento é adquirido de forma empírica e flui por meio da oralidade. Este é o cenário de atuação do ECOEM e suas humildes contribuições científicas, educacionais e sociais.