Histórico

 

Laboratório de Pesquisas sobre Políticas Sociais do Sertão Central (Lapps): ciência, educação e arte a serviço da sociedade

Sertão Central cearense: síntese sócio-histórica de uma região

A Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC), unidade acadêmica da Universidade Estadual do Ceará (UECE), tem sua sede no município de Quixadá, distante cerca de 160 Km da capital Fortaleza, e está situada na região Sertão Central, como mesorregião administrativa do Estado do Ceará. Essa região sertaneja tem suas origens nos movimentos migratórios coloniais dos séculos XVII e XVIII em que se deram as penetrações das boiadas vindas da capitania de Pernambuco, seguindo o leito do rio Jaguaribe e de seus afluentes. Combinando-se a submissão ou destruição dos nativos e a adaptação do adventício colonial ao novo ambiente, estabeleceram-se as fazendas de gado e com elas a civilização do couro. Mais tarde prolifera o cultivo do algodão que irá constituir com o gado o binômio econômico característico do sertão nordestino. Contudo, a rusticidade das condições ambientais não foi empecilho ao desenvolvimento da região, sobretudo porque a mesma se constituiu em área de passagem de gado e outros produtos ligando o sul caririense e os sertões do Piauí ao litoral cearense, quando no século XIX expandiam-se as exportações de matérias-primas. Nesse ínterim consolida-se, também, o caráter mercantil nas atividades da economia sertaneja.

Hoje, além de Quixadá, essa região é composta pelos municípios de Banabuiú, Boa Viagem, Choró, Ibaretama, Ibicuitinga, Deputado Irapuã Pinheiro, Madalena, Milhã, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Quixeramobim, Senador Pompeu e Solonópole. Ocupa uma área geográfica de 19.885Km², habitada por um total de 444.031 pessoas. Encontra-se totalmente inserida na área de clima semi-árido, onde registra-se baixa média pluviométrica; o solo é, em sua maioria, pobre de embasamento cristalino, apresentando baixa capacidade de infiltração de águas. Esse conjunto de fatores, entre outros, favorece a formação do ecossistema da caatinga.

Esse caráter interiorano da região trouxe-lhe graves desvantagens no tocante à integração sócio-econômica, educacional e cultural com os centros litorâneos e regiões de maior dinamismo econômico e político; razão porque iniciativas de incremento ao desenvolvimento educacional, científico e tecnológico nessa região se constituem em necessidade urgente, como correção de rumos de desenvolvimento, tendo em vista seu potencial econômico, recursos naturais e humanos.

Não podemos deixar de mencionar que o visível e necessário alargamento regional capitania para os mais poderosos a melhor fatia do desenvolvimento científico e tecnológico, deixando para as classes subalternas as sobras de um sistema capitalista que somente consegue sobreviver e se desenvolver operando a dicotômica divisão da riqueza natural, material e cultural produzida pelo trabalho humano, entre duas classes distintas.

A cidade de Quixadá não se isenta dessa bifurcação apresentada pela sociedade contemporânea. Assistimos estupefatos a destruição de prédios históricos e a apropriação desigual (seguindo a lógica capitalista) dos muitos encantos naturais presentes nessa cidade. No primeiro caso, a alegação anunciada pelos interessados em tais destruições é que a região precisa se desenvolver e crescer economicamente. Quando a questão se refere ao meio ambiente, apesar de inúmeros apelos midiáticos relacionados à conservação e preservação da natureza, a apologética desculpa à evolução econômica continua dando o tom da prosa.

É precisamente nesse semblante de crise aguda do capitalismo mundial, comprovada largamente na esfera local, que precisamos criar instrumentos de discussão potencializante para a compreensão e intervenção na práxis social.

Diante do destoante quadro de monocefalia intelectual encontrado em nosso Estado, onde os maiores investimentos científicos, tecnológicos, financeiros, bem como de recursos humanos qualificados são direcionados para Fortaleza, que, por sua vez, já padece do descaso posto a cabo pela (des)coincidência articulada1. Isto é, o desigual tratamento efetuado pelas políticas de C&T entre a polarização Norte-Sul, que condiciona o Estado a reproduzir na esfera regional, de forma geral, a política de tratar quem se encontra em posição privilegiada com mais recursos em detrimento dos que historicamente são postos de lado por tais políticas.

É esse panorama que desperta a necessidade da criação de espaços onde possamos discutir e debater nossa história, nomeadamente, os fatos políticos que, de forma direta, interferem nesse “museu de velhas novidades”.

Acreditamos ser a criação do Lapps um espaço propício para o debate crítico seguido de uma possível intervenção no contexto apresentado.