Projeto do Cetros integra literatura, artes cênicas, artes plásticas e audiovisual

31 de agosto de 2020 - 17:42 #

“nas circunstâncias da pandemia, o projeto AO PÉ DA LETRA passa a ser de absoluta necessidade porque a literatura e as artes de modo geral são como botes salva-vidas que nos ajudam a manter a sanidade” (Ceronha Pontes – atriz)

O isolamento social imposto pela Covid-19 cria obstáculos para a realização de atividades presenciais e rotineiras na universidade, obrigando a comunidade universitária a buscar modos alternativos de manter sua dinâmica. O laboratório Cetros tem buscado preservar a integração dos seus membros, a atuante intervenção na dinâmica universitária e na sociedade cearense.

O novo projeto encampado pelo laboratório, intitulado AO PÉ DA LETRA, é mais uma iniciativa que objetiva integrar comunidade acadêmica e sociedade na produção de conhecimentos e saberes necessários ao enfrentamento da crise sanitária, econômica, social e política que assola o Brasil.

O projeto e seus objetivos

O projeto vincula-se ao programa de extensão Arte e Crítica Social em atividade há quatorze anos na Universidade Estadual do Ceará. O objetivo do programa, segundo a coordenadora professora Elivania Moraes do curso de Serviço Social é “fomentar o debate e a crítica sobre temas atuais da sociedade brasileira, mediado pelas diversas expressões artísticas”. Ele pretende ainda “formar o gosto para o usufruto e a produção de obras de artes e despertar a consciência crítica dos sujeitos em face dos problemas políticos e sociais vividos na sociedade brasileira”, afirmou a professora.

AO PÉ DA LETRA “é um projeto de natureza educativa, de interesse público e sem fins lucrativos. Na primeira fase, que vai de agosto de 2020 a julho de 2021, reunir-se-ão obras literárias do gênero crônica e conto dentro da temática “educação e emancipação” que serão interpretadas e gravadas em vídeo para veiculação nas mídias sociais”, segundo a proposta elaborada pelo laboratório.

Foram convidados/as doze escritores/as cearenses e três de outros estados brasileiros que já se incorporaram ao Projeto e estão enviando seus textos, que devem ser lidos/interpretados e gravados em vídeo por atores e atrizes. A produção dos vídeos conta, ainda, com tradução para LIBRAS e com a participação de musicistas, desenhistas, bordadeiras e designers.

“Todo esse aparato humano e técnico”, diz o coordenador do projeto, prof. Epitácio Macário (Serviço Social – UECE), “estará a serviço da produção de belos vídeos com grande potencial formativo/educativo”, além de dar acesso à comunidade de surdos e cegos a obras literárias. Para Elivania Moraes, AO PÉ DA LETRA “promete movimentar nosso senso estético, nosso sentimento e nosso pensamento na direção da crítica social, dando visibilidade a artistas de nossa terra”.

Na avaliação da atriz Ceronha Pontes, que nos brindou com bela interpretação da crônica LEITORES do escritor cearense Pedro Salgueiro, “nesse momento sombrio que a gente tá atravessando no Brasil, ao PÉ DA LETRA deixa de ser apenas importante e passar a ser fundamental”. É um projeto de “absoluta necessidade porque a literatura, a cultura, as artes de maneira geral são como botes salva-vidas”, disse a atriz, que é formada em Filosofia pela UECE e em Teatro pela UFC e tem longo repertório de atuação no cinema e no teatro. Para Ceronha, que é conterrânea de Pedro Salgueiro (ambos de Tamboril-CE), “a gente que produz e a gente que consome as artes fazemos porque necessitamos manter o coração aquecido e a esperança de que vamos reverter esse momento ruim e encontrar a beleza de viver”.

Lançamento do projeto

O primeiro episódio do AO PÉ DA LETRA exibiu a crônica LEITORES do escritor cearense Pedro Salgueiro, que integra o projeto. O vídeo foi ao ar (no Youtube do Cetros) às 19h da última sexta-feira (28/08/20) e está disponível.

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A atriz Ceronha Pontes prestigiou o projeto, gravando em vídeo bela interpretação. Para ela, foi uma “felicidade interpretar a crônica que lhe remeteu ao torrão onde nasceu, a cidade de Tamboril” e aos personagens que influenciaram o escritor no hábito da leitura, todos eles conhecidos da atriz. Um sapateiro, seu pai, um bodegueiro, seu avô materno e uma tia tidos pelo autor como “inveterados leitores”. A atriz encontrou-se na crônica também porque, conforme declarou, “o Pedro é um tanto responsável pelo gosto que eu tenho pela leitura e pela escrita”.

O episódio contou com tradução para a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, pela estudante do curso de Serviço Social da UECE, Ana Nicolle. A trilha sonora foi criada, especialmente para o episódio, pelo aluno do curso de música da UECE, Ianni Macário.

O vídeo contou ainda com a participação da professora Olinda Evangelista, da Universidade Federal de Santa Catarina, que produziu tela em bordado inspirada na crônica de Pedro Salgueiro. A homenagem a Florestan Fernandes ficou por conta de Doris Soares, que é desenhista e aluno de Filosofia na UECE. A Produção e a edição do vídeo ficaram por conta da assistente social da UFC Richelly Barbosa, que também é doutoranda em educação pela UFC e mestre e graduada em Serviço Social pela UECE.

Após a estreia do vídeo, realizou-se uma “live” com o tema “Arte educação e sociedade” com debate entre Ceronha Pontes e as professoras Geny Lúcia Salgueiro e Elivania Moraes. A discussão girou em torno de três eixos: I) as produções artísticas de Pedro Salgueiro e de Ceronha Pontes; II) universidade pública e III) arte e sociedade brasileira.

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Em sua intervenção, Ceronha Pontes invocou “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, para afirmar que “na história da humanidade todo ato de destruição encontra sua resposta em atos construtivos”. O Brasil passa um momento destrutivo, refletiu a atriz, que, tão cedo, poderá encontrar respostas positivas nas ações do próprio povo. Para ela, a universidade pública e as diversas expressões artísticas têm papel fundamental na produção de saídas positivas da atual crise.

A produção e usufruto da arte é uma trincheira a ser ocupada, disse a educadora Geny Lúcia Salgueiro, porque nos humaniza e dá esperança. “A pandemia abriu um tempo de reflexão sobre a vida” e a arte pode desempenhar papel ainda mais relevante nessas circunstâncias. Para a educadora, isso remete ao grave problema das desigualdades sociais que marcam tão profundamente a sociedade brasileira e que têm implicações no acesso das pessoas à cultura. Geny Salgueiro sugeriu que, em seu desdobramento, “o projeto AO PÉ DA LETRA acolha e veicule a produção artística popular, uma maneira de dar voz às pessoas e grupos subalternizados”.

O programa de extensão Arte e crítica social, disse Elivania Moraes, “traz em si a preocupação de integrar a poesia marginal, o teatro do oprimido, o grafite como forma de dar voz aos grupos sociais marginalizados”. A tradução para LIBRAS dos vídeos produzidos no laboratório é um indicativo desse esforço de inclusão que marca a atuação dos que fazem o laboratório, concluiu Moraes.

O próximo episódio do projeto AO PÉ DA LETRA irá ao ar no próximo 11 de setembro, com um excerto do livro-poema ELE do escritor Mailson Furtado. Na ocasião, haverá diálogo virtual com o autor, a partir das 19 horas.

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