Projeto AO PÉ DA LETRA exibe poema de Mailson Furtado
16 de setembro de 2020 - 12:01
O projeto AO PÉ DA LETRA publicou em seu segundo episódio o poema Ao operário, que é um excerto do livro ELE, de Mailson Furtado. O vídeo foi ao ar no canal do Youtube do laboratório Cetros às 19h da última sexta-feira (11/09) e foi seguido de um bate papo virtual entre o autor, a professora Olinda Evangelista (UFSC) e o musicista Heriberto Silva com mediação da assistente social da UFC Richelly Barbosa.
O livro-poema é uma produção independente lançado pela Editora Expressão Gráfica em agosto de 2020. Ele segue a mesma linha inventiva e inovadora que marca o “À cidade”, obra que alçou Furtado ao prêmio Jabuti de 2018 nas categorias poesia e livro do ano. “O à cidade foi um livro escrito de uma vez só, bem diferente do Ele que levou sete anos para ser produzido. Cada obra tem sua experimentação e eu gosto muito de experimentar. Sempre me esforço para ir além do já conquistado”, afirmou Furtado na atividade virtual.
Esse caráter de experimento resultou que, nas duas obras, “Mailson expressa uma personalidade artística própria” como afirma Richelly Barbosa em sua resenha publicada pelo projeto “Encontros: arte, saúde e cidadania”, ligado à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal do Ceará, disponível no Canal Conexão UFC – Youtube. Já para o coordenador do projeto Ao Pé da Letra “o que mais impressiona é como o autor encontra a linguagem, manufatura as palavras e as concatena para expressar liricamente uma dura realidade que toca e diz respeito a todos”, afirmou Epitácio Macário. E essa capacidade de diálogo que o texto traz inspirou, ainda, o estudante de filosofia da UECE Doris Soares, a desenhar o patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire – aquele que fora o mestre na arte de educar sem perder de vista o diálogo com as mazelas da sociedade civil.
Falando de experimentação, o musicista Heriberto Silva relatou como foi a composição da trilha sonora. Segundo informou, “recebi e li o poema que trata da vida triste do operário. Então, resolvi iniciar a melodia com um tom menor, mas depois quis passar um clima de esperança e alegria mudando o tom e o ritmo”. Além disso, “no meio eu fui lá na região de Portugal buscar o fado tropical que passa um clima triste também e vou repetindo os movimentos como está no poema sobre a vida do operário”, afirmou o músico popular que reside em Nova Russas.
Durante a “live”, a professora Olinda Evangelista contou como a arte de bordar entrou, saiu e retornou a sua vida. Apreciadora de música e poesia, a educadora tinha abandonado o bordado na juventude até o reencontrar, na vida adulta, numa viagem a Portugal. Por lá, “conheci o bordado dos namorados que é um lencinho onde a pretendente deixa escrita uma trova de amor e o entrega ao pretendido. Se ele aceitar o lenço, está aceitando o compromisso”, afirmou ela. Desde então, o artesanato retornou a sua prática agora “como criação, usufruto e engrandecimento da pessoa”, disse.
A professora referiu-se ainda ao poema Ao operário, de Mailson Furtado, como uma peça que expressa o cotidiano alienado e dolorido do operário, como também é sentido na música de Heriberto Silva. No geral, as poesias realistas sobre esse tema chocam, te põem de frente para o crime e geralmente nos deixam em becos sem saída. “É como no poema Ao operário: ele não te ajuda ao final, mostra que o operário não domina sua própria história”. Ao reescrever o poema por meio do bordado, “tentei lidar com símbolos da alienação humana como o relógio que ordena nossa vida, mas mostrei que o operário forja as saídas”, explanou Evangelista em sua análise.
Remetendo à ideia da Filosofia da arte segundo a qual o usufruidor da obra de arte não é passivo, Furtado referiu-se às apreciações de Richelly Barbosa, à análise e bordado de Evangelista e à música de Heriberto Silva como reescrita do poema. “O livro é escrito em terceira pessoa, onde o personagem não se enxerga e vai se negando e produzindo o seu fim já desde o início. A história é construída assim e acho que essa é a realidade de grande parte das pessoas”, refletiu o autor. Segundo, ainda, Mailson Furtado, a produção do livro durante sete anos foi uma experiência dolorida “porque o personagem ELE retrata muitas pessoas do próprio convívio e que observo no povo, envenenados por essa programação de vida que nos é dada”, concluiu o autor.
O episódio Ao operário pode ser acessado aqui
O debate virtual pode ser acessado aqui. Ele foi realizado em parceria com ao Projeto Encontros da UFC e também está disponível no Facebook do Canal Conexão UFC.
A resenha do livro ELE, produzida pelo projeto Encontros, pode ser acessada aqui.