Sertão será tema de exposição na XXX Semana Universitária da UECE
5 de outubro de 2025 - 01:56 ##artes visuais ##bordados ##letramento literário ##literatura ##semana universitária da uece
“Um dia as palavras desataram” enchendo páginas, traçando vinte e quatro histórias contadas por seis escritoras/escritores cearenses e uma paraibana no livro “Linhas de um sertão que há-via” (no prelo). Uma enchente de memórias, afetos, costumes e hábitos… uma maneira de ser-tão nordestino que está dentro da gente.
Este rio de narrativas literárias desbordou os sertões do Ceará e ganhou o mundão, desaguando nas mãos de vinte e nove bordadeiras e três bordadeiros de diversos estados brasileiros. Com agulhas, fios, paninhos, com seus corações e mentes, elas/eles teceram malhas de afetos inspiradas/os nos contos.
As trinta e duas peças de bordado produzidas para o projeto estarão expostas no hall da reitoria da Universidade Estadual do Ceará durante a XXX Semana Universitária, de 6 a 10 de outubro de 2025. A visitação é aberta à sociedade no horário de 8 às 21 horas e contará com acompanhamento de bolsistas do projeto de iniciação artística “Ao pé da letra” desenvolvido pelo Laboratório Cetros. A programação conta com apoio da Pró-Reitora de Extensão da Uece.
Além do usufruto estético, as peças de bordado serão utilizadas no minicurso “Círculo de cultura, letramento literário e formação humana” que ocorrerá no local e em atividades direcionadas a estudantes do 9º ano do ensino fundamental da rede pública municipal de Fortaleza que participam do projeto Integração Uece.
Programação
Bordado e literatura: um diálogo criativo
Cada bordado é uma criação totalmente nova, uma história à parte, um evento extraordinário que não estava posto ainda. Pois, se o texto literário fornece o roteiro, a/o bordadeira/o é quem escolhe sentido e significado, técnica e composição da tela. E ademais, concentra toda potência subjetiva no ziguezaguear da agulha, no manejo dos paninhos, nas escolhas dos elementos estéticos a serem mobilizados na tessitura da tela.
No projeto Linhas de um sertão que há-via, “literatura e bordado são artes que se complementam, cada uma com uma ontologia particular; a imagem, a ilustração, não é e não pode ser reprodução literal do texto. Trata-se de um diálogo criativo entre duas linguagens artísticas diferentes”, diz Olinda Evangelista.
Segundo a bordadeira, que é professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina, “a imagem produzida na tela de bordado traz as referências que a/o bordadeira/o já tem sobre o tema do conto; ela expressa plasticamente a experiência social, as visões de mundo da pessoa que borda”. Por ser realização prática, objetiva, de algo que só existia na consciência da/o bordadeira/o que se inspira no conto lido, “a imagem criada no pano é única, irrepetível e, por isto, expande, aprofunda aspectos estéticos suscitados pela palavra escrita, além de criar novos elementos para a narrativa”, completa Evangelista.
Pela palavra, os contos reunidos no livro Linhas de um sertão que há-via criam ou recriam situações particulares ou modos de vida particulares existidos e existentes nos sertões profundos do Nordeste brasileiro. Os enredos são construídos de uma forma que sempre remetem à humanidade em geral, aos enfrentamentos que convocam à ação homens e mulheres com suas potências e fragilidades, suas vilezas e virtudes, sua coragem e seus medos.
Ao seu modo, o bordado também expressa essa mediação entre particularidade e universalidade, “seja em modos de vida que vão sendo superados como aqueles em que o bordado era prática exclusivamente feminina e seus produtos ficavam presos nos baús de enxovais de ‘mulheres recatadas e do lar’ ou tinham um sentido utilitário como enfeite de panos de prato, toalhas, lençóis, roupinhas para bebês”. Hoje, diz a professora/bordadeira, “bordar vai se transformando em uma arte contemporânea e, por isto, pode dialogar de igual para igual com a literatura”, como no conceito e estrutura do livro Linhas de um sertão que há-via.
Projeto Linhas de um sertão que há-via
Linhas de um sertão que há-via é o título da coletânea de vinte e quatro contos que está sendo produzida sob a responsabilidade do Coletivo Ao Pé da Letra, ponto de cultura do Estado do Ceará e projeto de iniciação artística vinculado à Pró-Reiotira de Extensão da Uniersidade Estadual do Ceará.
Todos os causos retratam aspectos passados da vida das gentes sertanejas/nordestinas que remanescem nas memórias afetivas como um fio vermelho dos modos de vida pretéritos que continuam em nós. Misturam-se escritos de autoras/autores reconhecidos/as na literatura cearense e outras e outros iniciantes ou ensaístas. É o caso de Zélia Sales (Quando morrem as bonecas), Elias de França (A menina de cabeça nas nuvens) e Efigênia Alves (Verbos maduros e de vez – e outros poemas), Bevenuta Sales e Carlos Bonfim que são co-autores/as do livro Ao pé da letra: literatura no balaio de artes (EdUece, 2022),o professor Epitácio Macário (Estações) e a escritora Socorro Sales.
Os contos serão ilustrados pelos bordados e foram gravados em vídeos, receberam trilhas sonoras e interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Estas diversas mídias estão sendo tratadas na produção de audiovisuais que serão veiculados pelas mídias da Universidade Estadual do Ceará e em episódios de PodCast. Todo o trabalho é realizado pela equipe de coordenadores/as, colaboradores/as e bolsistas e bolsistas de extensão e iniciação artística vinculados/as ao laboratório Cetros.
O projeto tem um conceito quanto à produção, publicação e veiculação de seus produtos: integrar várias linguagens artísticas com a Literatura e armazenar/distribuir em multimeios impressos e digitais, criando condições de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva e de diversas gerações.
Os objetivos estão ligados diretamente ao fortalecimento da integração entre universidade e sistema de educação básica, mobilizando talentos, artes, inventividade em torno da formação humana e do letramento literário, como ilustrado no vídeo da oficina realizada dia 30 de setembro de 2025 na EEMTI Presidente Humberto Castelo Branco.
As ações em torno do Linhas de um sertão que há-via articulam-se, desta maneira, com o projeto “Círculo de cultura: letramento literário e formação humana” que integra a Rede Interset Ceará, que “é uma ação do Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (Sase), com apoio das Instituições Públicas de Ensino Superior (Ipes) do Ceará. A atuação dos projetos aprovados será marcada pela transversalidade, promovendo ações em áreas como educação, saúde, meio ambiente, cultura e direitos humanos, com foco em comunidades periféricas e vulnerabilizadas”, afirma a pró-reitoria de extensão da Uece.