Pronasci está sem recurso desde o começo deste ano

30 de julho de 2011 - 12:46

Enquanto os índices de criminalidade sobem no bairro, o programa “Território da Paz” está em risco de acabar

O Bom Jardim, na Secretaria Executiva Regional (SER) V, continua liderando o ranking de bairro com maior índice de homicídios, foram 149 mortos entre os anos de 2007 e 2009. Esta constatação parece soar contraditória, principalmente após o informe dado ontem pelo diretor da Guarda Municipal de Fortaleza, Arimá Rocha. “O Programa Nacional de Segurança em Cidadania está parado. Desde o começo do ano que não recebe verba alguma. Isso é inaceitável, justo em um local que tanto necessita”, afirma o gestor.

A “Cartografia da Criminalidade” aponta reduções e aumentos no bairro. Houve uma baixa nos furtos no Bom Jardim, caindo de 642 em 2007 para 371 em 2009. Entretanto, houve um aumento de homicídios: 49 em 2007 e 61 dois anos depois. Os roubos também cresceram, 879 no começo e 1.024 no fim.

A pesquisadora Glaucíria Mota ressalta que o fato não é isolado, está contextualizado com a realidade sócio ambiental vivida pelos moradores da SER V. “Esta regional é a mais populosa, com mais pobres. A taxa de analfabetismo é de 17%, mais de 2% do total estão desempregados e 24% não tem acesso à esgoto”, analisa a pesquisadora.

No ranking dos homicídios, seguem, em segundo e terceiros lugares, Messejana (161 homicídios) e Jangurussu (116). A Barra do Ceará (95) e o Mondubim (74) ocupam o 4º e o 5ª lugar. O Centro teria a menor quantidade de homicídios, 50.

Desencontros

O bairro do Centro, situado na pesquisa junto à SER II, tem grandes disparidades no estudo, conforme o texto. Ele se destaca, em números absolutos, por ter muitas relações conflituosas. São 1.112 deste tipo de referência, que se centra nos relatos de queixa, calúnia, difamação e racismo, por exemplo.

O Centro também concentra os mais altos índices de furtos da SER II, apesar de estar caindo. Foram 4.847 em 2007, 4.361 em 2008 e 4.350 em 2009. Situação diferente na Aldeota. Houve, conforme o estudo, um pequeno aumento dos furtos: de 2192 em 2008 para 2.222 no ano seguinte.

A SER III é uma das que apresenta maior aumento nos casos de relações conflituosas, as conhecidas “brigas” de vizinhos. Os bairros Antônio Bezerra, Henrique Jorge, Quintino Cunha, Bonsucesso e João XXIII tiveram aumento, passando de 1.689 casos em 2008 para 2.145 no ano de 2009. Um outro fenômeno na SER III é a diminuição das mortes violentas nos mesmos bairros, de 128 para 113 no período de um ano.

A pesquisa revelou uma certa estabilização em alguns bairros da SER VI. Os casos de lesão corporal – 1.681 em 2007 e 1.670 em 2009 – e mortes violentas – 549 no começo da pesquisa e 535 no fim – se mantiveram em equilíbrio, sem queda ou avanço significativa. A “Cartografia” aponta para a grande demanda para resoluções de relações de conflitos, 4.202 casos em um ano. O estudo lembra que a área tem grande fluxo de migração e, além disso, concentra tanto na SER V e VI, 39 das 92 áreas de risco da Capital.

Priorização

Sobre o cenário apresentado pelo estudo, o pesquisador César Barreira espera que a cartografia possa ajudar a nortear a instalação e reforço de políticas públicas. “Com o estudo não queremos apenas apontar onde é mais violento, criar estigmas. Mas sim auxiliar nos ajustes necessários, colocar, por exemplo, mais investimentos onde a situação está mais crítica”, diz.

Ele ressalta ainda a necessidade de se quebrar o ciclo vicioso do medo. “Da violência que gera o temor e do temor que gera violência”, comenta Barreira.

Atento aos números e afirmando que irá apresentar a pesquisa para o secretariado da Prefeitura, Arimá Rocha, diz que dará mais prioridade aos locais de maior vulnerabilidade e pensará, junto com o governo estadual e federal, modos de por em prática parte do que propõem os estudiosos da área. Sobre o recurso do Pronasci, ele explicou que, ainda em agosto, haverá uma reunião em Brasília.

Propostas

A pesquisadora Rosemary Mota, deu uma sugestão de que todas as delegacias pudessem ter salas de mediações e delegados dispostos a mediar. “Isto diminuiria a reincidências de pequenos conflitos”, informa.

A professora Glaucíria Mota espera que a cartografia possa auxiliar na implantação de uma nova cultura. “Os gestores não têm a tradição de avaliar as políticas. Não basta dar continuidade ou acabar tudo de uma vez. Tem que se ponderar o sucesso ou não. O Ronda, por exemplo, deveria estar em constante estudo para mudanças”, critica.

A assessoria de imprensa da SSPDS, informa que todo e qualquer estudo neste sentido é bem vindo, mas que, já constrói, por conta própria, um mapeamento da violência. Sobre as críticas, a SSPDS reforça realizar diariamente monitoramento de todas as ações junto à comunidades e aos gestores responsáveis.

Estatísticas

371 Homicídios foram registrados no ano de 2009 no bairro do Bom Jardim. Houve, entretanto, uma redução dos casos. Foram 642 mortes no ano de 2007, segundo o estudo da Uece

4.350 furtos foram contabilizados no ano de 2009 no Centro da Cidade. De acordo com a pesquisa, houve uma redução. Em 2007, eram 4.847, e 4.361 em 2008.

Fonte: Diário do Nordeste