A greve dos militares e o silêncio do poder no Ceará

15 de janeiro de 2012 - 10:21

POLÍTICA

A paralisação dos policiais militares durante seis dias no Estado do Ceará foi um movimento político (uma vez que toda paralisação ou greve de categorias tem seu viés político, isso é fato) inusitado e, principalmente, fermentado pela falta de diálogo dos comandos militares e do Governo Cid Gomes com o movimento paredista militar que se fortaleceu no silêncio de uma gestão pouco afeita ao diálogo com os movimentos sociais (esse silêncio forjou o aparecimento de uma liderança que soube ocupar os vazios de poder).

Em todo esse episódio é como se o Governo estivesse acéfalo, alheio à seriedade de uma situação gestada pelo autismo dos comandos militares que preferiram negar o que estava acontecendo nos quartéis a reconhecer que tinham perdido o controle de uma situação que se derramou pelas ruas, travestida de medo, de insegurança pela boataria e/ou realidade de ações criminosas que aproveitaram o caos.

O silêncio governamental não se restringiu apenas às autoridades da área da segurança pública, ele fez eco na Assembleia Legislativa que seguiu o silêncio tirano do Governo de plantão como se não tivesse compromisso com a sociedade que a elegeu (poucos parlamentares se manifestaram).

Quando os poderes constituídos ignoram a importância do diálogo, da mediação para a resolução dos conflitos sociais, e fazem do silêncio a resposta, eles estão fadados ao fracasso ou à tirania. O mais grave é que eles põem em risco a governabilidade da sociedade, a sua paz social, a confiança que a população deve ter em seus governantes. Diante do silêncio do Governo, coube ao comandante da 10ª Região Militar, General Gomes de Matos, tranquilizar a população quando cabia ao governador Cid Gomes fazê-lo, assim como ao secretário de Segurança Pública, persona ausente em todo esse processo.

Às autoridades instituídas cabe zelar pelo bem comum da população e, nesse caso, a questão era a segurança dessa população que estava ameaçada pela paralisação dos policiais militares. Essas mesmas autoridades não podem ignorar que o cargo que elas ocupam é público e que no espaço do público, na (res)pública, a palavra simboliza a autoridade que o governante tem no exercício do poder e nas relações que constrói com os mais diversos setores da vida política e social, a perda dessa autoridade inviabiliza a governabilidade da cidade e instala o caos.

 

Glaucíria Mota Brasil

gmotabrasil@gmail.com

Coordenadora do Laboratório de Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisadora do CNPq

 

Fonte: Jornal O Povo