Coronel-aviador narra operação para matar Jango em 1961

4 de maio de 2013 - 09:12

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, militar da reserva narra operação que pretendia matar presidente que acabaria deposto pelo golpe de 1964 antes mesmo de tomar posse

 

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o coronel-aviador da reserva Roberto Baere contou detalhes da Operação Mosquito, conspiração de oficiais da Aeronáutica para matar João Goulart em 1961. O então vice, conhecido como Jango, estava prestes a assumir a Presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto, mas grupo de militares de direita queria impedir a posse.

Goulart, do PTB, era apoiado por partidos de esquerda. Quando Jânio renunciou ao governo, em 25 de agosto de 1961, Goulart estava em viagem à China. Ciente da oposição da direita militar e civil, o vice demorou dias para voltar. Só chegou em 31 de agosto e desembarcou em Porto Alegre (RS), onde as tropas gaúchas eram leais ao governo, assim como seu cunhado, o governador Leonel Brizola (PTB), que montara rede de rádios para apoiar a sua posse na Presidência – a Cadeia da Legalidade.

Mas Jango precisava ir para Brasília, o que só ocorreu em 5 de setembro, depois que acordo resultou na aprovação do parlamentarismo. O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart viajaria.

Baere, então tenente do 1º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, contou, no último sábado, ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque ao avião que transportava o vice-presidente. Baere e três colegas se recusaram a cumprir a missão e pediram para não serem escalados.

O plano acabou não sendo colocado em prática, mas Baere passou a ser perseguido e foi punido três anos depois, já durante a ditadura, instituída pelo golpe de 1964. “Fui sumariamente expulso, após ficar 50 dias incomunicável na prisão, policiado na porta por um oficial portando metralhadora, como se fosse um marginal de alta periculosidade”, afirmou. (da Agência Estado)

 

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA

Durante a audiência pública promovida neste sábado, a Comissão Nacional da Verdade ouviu depoimentos de vários militares que se opuseram ao golpe de 1964 e foram punidos pela ditadura.
Fonte: Jornal O Povo