Terror das gangues x ineficácia das instâncias públicas

7 de maio de 2013 - 08:44

Desde o início do ano, pelo menos uma dezena de homicídios ocorreu no Conjunto S. Miguel

A briga entre gangues de traficantes de drogas há muito vem aterrorizando a periferia de Fortaleza. No Conjunto São Miguel, a tensão alcança limites insuportáveis desde a execução do chefe de uma das quadrilhas rivais na saída de uma audiência no Fórum Clóvis Beviláqua, no último dia 19 de abril. Os detalhes do episódio deixam entrever procedimentos questionáveis da Polícia e de juízes, abalando ainda mais a confiança da população em suas instituições.

Desde o início do ano, pelo menos uma dezena de homicídios ocorreu no Conjunto São Miguel, em Messejana, por conta da rivalidade entre as quadrilhas Mangueira e Coqueirinho. As mortes envolvem principalmente adolescentes, mas as trocas de tiros e tentativas de execução já alcançam até crianças. Tudo começou como rivalidade entre duas gangues de jovens, mas terminou virando disputa por território de venda de drogas.

A população que nada tem a ver com a briga vive aterrorizada e submetida aos caprichos e violência dos dois grupos marginais.

Depois de ter participado de uma chacina contra membros da quadrilha rival (Coqueirinho), Francileudo Pereira, chefe da outra facção (Mangueira), foi abatido logo após ter deixado uma audiência no Fórum Clóvis Beviláqua, junto com seu comparsa Wellington da Costa Cruz. No Fórum, o chefão aproveitara para fazer ameaças e intimidações às testemunhas, de maneira ostensiva. Embora flagrado no momento em que fazia isso, a juíza titular da 5ª Vara do Júri não atendeu ao pedido do promotor para deter os acusados. Não era a primeira vez, segundo registros, que a magistrada não levava em conta os alertas e as medidas preventivas requisitadas pela acusação. Um procedimento inexplicável, já que os argumentos e os fatos apresentados sobre a periculosidade dos acusados eram contundentes.

Fatos como esse merecem a atenção dos órgãos controladores da Justiça. É o mínimo que a sociedade espera. O mesmo se diga da cobrança de uma ação mais competente da Polícia para barrar o vale-tudo dos marginais, o que poderia ser feito através da prévia atuação dos serviços de inteligência. A não ser assim, será difícil conter a decepção dos cidadãos em relação à eficácia de suas instituições – o que é muito comprometedor para a democracia.

Editorial

Fonte: Jornal O Povo