Velhas ideologias
24 de junho de 2013 - 10:51
Mário Albuquerque
mariom albuquerque@gmail.com
Membro da Associação 64/68 – Anistia
Para os estudiosos da sociedade brasileira é campo fértil e estimulante o momento que ora passamos a viver em relação ao melhor caminho para a “antes tarde do que nunca” reforma política, imposta pela rua. Qual seja, plebiscito ou referendo. E aqui é interessante notar a esgrima ideológica de duas velhas ideologias do nosso DNA pátrio, desde que passamos a nos conceituar como nação e cujo diferencial diz respeito ao papel do povo, ou ao seu peso nas decisões constitutivas do país. Como nos vários momentos do passado (melhor seria dizer: “momentos passados”, pois o “passado”, como estrutura, teima em não passar entre nós) – quando a “camisa de força” imposta ao povo pelo pacto das elites perde sua funcionalidade e o povo atinge seu limite de paciência e se faz protagonista do parto da história – as velhas ideologias revelam-se em toda sua clareza.
Uma tenta a todo custo mitigar o peso do povo, reduzi-lo a um papel coadjuvante, limitando-o a um mero referendo, em que o povo (“classes perigosas”) será chamado a decidir sobre uns poucos pontos “ao seu alcance”, após passarem pela filtragem de um congresso que a rua pôs em vestes rotas. A outra, em sentido contrário, busca ser coerente com o demiurgo da constituição: todo poder emana do povo.
Para os que encaram o povo como a uma criança que precisa sempre ser conduzida por um braço adulto (de preferência “forte”), não sendo possível evitar o plebiscito, tratam de mitigá-lo, ou através da redução da pauta decisória ou submetendo a decisão popular a uma espécie de referendo congressual, agora que o recurso ao faccionismo militar parece ultrapassado. Se houve jurista para o AI-5, para isso também não há de faltar para essa outra versão do “não deve ser candidato; se candidato, não deve ser eleito; se eleito, não deve tomar posse; se tomar posse, não deve governar”.
O enredo é velho. Novos só os personagens, pessoais e partidários. O parto foi iniciado e logo saberemos a cara da criança. Quem sempre pregou contra as ideologias não tem escapatória, vai ter que escolher uma. A minha já escolhi: sou pelo plebiscito. E quanto mais, melhor. É hora de deixarmos de ser apenas um país e nos consolidar como nação. O Brasil e seu valoroso povo merecem. Às urnas!
Fonte: Jornal O Povo