Os Suruí/Aikewar e a Guerrilha do Araguaia
24 de janeiro de 2015 - 09:45
“No contexto da ditadura, as práticas dos agentes da repressão não reconheciam direitos humanos e a confiança na impunidade dava margem a violações e sujeições vis. Os Suruí/Aikewar, que ocupavam a área indígena Sororó, sofreram constrangimentos cruéis e passaram a carregar, assim como muitos mateiros, estigma de terem sido instrumento de barbaridades comandadas por outros, o que significa uma alienação abjeta quando eles foram constrangidos a se tornar coisa diversa daquilo que realmente eram, abuso que significou ‘perda da própria identidade individual e coletiva’(…)
Está claro que o conceito da civilização do governo não incluía camponeses e índios, aliás, “silvícolas”, que era como a Constituição de 1969 chamava os grupos indígenas. O projeto civilizatório do governo ditatorial consistia em dotar o espaço amazônico, tido como vazio, de infraestruturas, tais como rodovias, usinas hidrelétricas, recursos de telecomunicação e agências burocráticas, tudo para impulsionar o crescimento econômico, de modo a integrar a Amazônia aos mercados.
Quanto aos indígenas, estes eram vistos como ‘povos em transição’, a serem incorporados pela sociedade nacional. Encaixados em quadro jurídico-institucional que os privava de cidadania plena, posto que submetidos a regime tutelar da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), conforme ditava o Código Civil da época, ‘o qual cessará à medida em que se forem adaptando à civilização do país’ os povos indígenas deveriam desaparecer. ‘enquanto entidades étnicas.
Agente desse genocídio, a FUNAI então se enquadrava burocraticamente no Ministério do Interior, ‘órgão de governo essencialmente comprometido com as políticas desenvolvimentistas sempre contrárias aos indígenas’. Daí a situação contraditória em que se encontravam os índios, (…).”