Falta de boa iluminação deixa cidadão vulnerável

25 de junho de 2013 - 13:01

Fortaleza é mal iluminada, o que colabora para o aumento da criminalidade, segundo pesquisadores em violência

“Se as ruas fossem mais iluminadas, a gente saía, ocupava mais os lugares. Talvez, assim, pudesse afastar a violência de perto dos nossos filhos, mas a gente acaba se fechando dentro de casa”. A opinião vem da costureira Sandra Maria da Silva, 37, moradora do bairro Barra do Ceará. A crença de Sandra encontra apoio e explicações nos estudos da pesquisadora sobre violência e direitos humanos Glaucíria Mota Brasil, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). A professora defende que uma boa iluminação pública inibe a ação de bandidos, diante dos eminentes riscos à noite.

O bairro onde Sandra vive está no topo do ranking dos mais violentos da Capital, com registro de 28 homicídios no primeiro quadrimestre deste ano, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS-CE). Ainda que a Secretaria não possua um mapeamento sobre horários e locais específicos onde mais ocorrem furtos e roubos a pessoas em Fortaleza, a professora Glaucíria alerta que o desleixo acerca do debate e da aplicabilidade sobre a confluência entre má iluminação e violência pode afetar, principalmente, o desenvolvimento de uma sociabilidade saudável.

Durante três dias, O POVO visitou 11 bairros da Capital pertencentes às seis Secretarias Executivas Regionais (SERs) e Centro. Buscou-se registrar ruas e avenidas – secundárias ou de fluxo intenso – mal iluminadas e conversar com os moradores sobre tal deficiência. O resultado são depoimentos amedrontados. “Tudo a gente marca para antes de anoitecer”, diz um morador do Mondubim. “Peço meus filhos para não ficarem conversando à noite na calçada com os colegas. É tudo tão escuro e deserto”, teme uma mãe no Meireles.

 

Iluminação x segurança

Coordenadora do Laboratório de Direitos Humanos (Labvida) e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência (Covio), os dois da Uece, a professora Glaucíria classifica como “muito pertinente” o cruzamento entre má iluminação das vias e ocorrências de casos de violência à noite. “Nossa cidade não é bem iluminada, mesmo com os postes todos funcionando. As luzes amarelas da forma como temos são ineficientes. A sensação de segurança do cidadão não depende só disso, claro, mas passa com grande importância pelo fator iluminação pública sim. Ruas mal iluminadas são muito mais propensas a assaltos e agressões”. A pesquisadora destaca que se sentir seguro abarca também outros cuidados, como manter uma cidade limpa, bem policiada e ordenada.

O sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcos Silva, traz também à discussão a importância de a iluminação está inclusa nas demandas de políticas públicas de segurança. “Não se deve achar normal ter medo de se movimentar na cidade à noite”. De acordo com o professor Marcos, há “um déficit histórico de iluminação pública”. Ele diz que não se tem um projeto de urbanização adequado para uma cidade como Fortaleza. “É preciso possibilitar a boa convivência da coletividade e cuidar de espaços onde ela esteja presente, como as praças. Isso melhora a sensação de segurança”, acredita Marcos. (Colaboraram os motoristas Antônio PessoaRaimundo FernandesRonaldo Bezerra)

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA

O POVO visitou 11 bairros da Capital para registrar locais com deficiência em iluminação pública – pontos recorrentes da ação de bandidos, e convida você a fazer o mesmo pelo mapa colaborativo no O POVO Online.

Saiba mais

Bairros e homicídios

Os bairros Barra do Ceará e Bom Jardim registraram os maiores índices de homicídios entre janeiro e abril deste ano. Foram 28 e 22 assassinatos, respectivamente, de um total de 662 ocorrências. Foram classificados como os bairros mais violentos da Capital.

Quando se trata de roubos e furtos de veículos, no mesmo período, o funesto topo é ocupado pelos bairros Messejana, José Walter, Mondubim e Henrique Jorge. Juntos, eles representam 13% do total de 2.090 veículos, cujos proprietários ficaram no prejuízo.

Fonte: Jornal O Povo