Como foi o 20 de junho?

20 de junho de 2013 - 13:05

Pois é pessoal, a pedra já estava sendo cantada. Como muitos amigos e amigas comecei bem empolgado, feliz e otimista com as manifestações. E isto por vários motivos:

1) A juventude demonstrou se interessar por algo mais do que consumo, baladas e gozos capitalistas instantâneos, trazendo um interesse pelos rumos da política e pelas decisões no espaço público;

2) A grande mídia (jornalões como O Globo, FSP, O Estadão, a Rede Globo, a Veja, e até a ZH e a RBS, embora mais comedidas) foi superada ao não conseguir desqualificar de plano os movimentos, tendo que capitular e passar a considerar uma grande coisa (retratação do Jabor, cobertura crescente, fracasso do projeto do Willian Bonner de ser uma espécie de Fátima Bernardes da Copa das Confederações, etc);

3) A violência policial foi completamente desmascarada;

4) Surge um novo alento na dinâmica entre movimentos sociais e partidos políticos, com a promessa de reconfigurar a atuação de ambos;

5) Consegue-se uma conquista objetiva e clara com o não aumento das tarifas, especialmente em Sampa.

6) A memória política foi reacendida conectando-se imediatamente as manifestações com a passeata dos cem mil durante a ditadura, e a mobilização pelas diretas já.

Apesar de todos esses pontos positivos, agora começo a ficar preocupado, pelas seguintes razões:

1) Começa a crescer visivelmente a pauta reacionária. Por tras do “abaixo a corrupção” está a bandeira do “vamos retirar o PT do poder” e permitir que o PSDB ou outras forças reacionárias ali cheguem;

2) Vejo claramente uma crescente tendência facista, de grupos que vão desde aqueles que são pagos por forças reacionárias do país (e que como se vê no post do Guigo, que transcrevi logo abaixo, são reais) até aqueles dispersos, classe-média homem-massa, que entendem tanto de política como minha avó de plantação de ovos, e que se orientam muito mais pelo canto da sereia da Veja e da Globo do que pelos convites a se politizarem feitos pelos grupos populares politizados;

3) Esta tendência facista fica clara pelo modo como são repelidos os que levantam as bandeiras dos partidos. Este tipo de reação fica como um claro alerta para a turma do “abaixo os partidos políticos”, mesmo os meus amigos que sei que tem a melhor das intenções, mas como já disse vejo este discurso como um “afofamento” sofisticado do ninho das serpentes facistas;

4) A mídia é esperta e rapidamente encontrou um modo de virar o jogo que perdeu na primeira partida. Ela parte em total investida contra o governo Dilma e quer virar o jogo em 2014 elegendo o Aécio, e se não der até o Eduardo Campos, mas este só como recurso de emergência.

5) Os vandalismos e destruições começam a aumentar e ocorre a proliferação de infiltrados pagos ou estimulados pela direita (entendam aí as forças reacionárias que querem mudar o jogo político rumo à diminuição das políticas sociais) e uma quase felicidade incontida da mídia e dos setores reacionários com tudo isto, pois é um modo de estigmatizar neste grupo os setores mais politizados ou “radicais”, por mais que não sejam eles os promotores da quebradeira;

6) E há muitos grupos e pensadores que considero libertários e emancipadores, mas que resistem em sair do seu deslumbramento new age e perceberem que o momento é de se unir para, ao mesmo tempo, negociar com o governo e impedir que a pauta reacionária e facista tome a frente, devendo sim apoiá-lo também, permitir sim que as bandeiras dos partidos possam ser empunhadas junto com as demandas dos movimentos não partidários.

E, para terminar, invocando nossa memória política:

As manifestações atuais correm o risco de saírem do paradigma “Passeata dos Cem Mil (1968)” para o paradigma “Marcha da Família com Deus pela Liberdade (1964)”.

Abraço, ZK.

José Carlos Moreira da Silva Filho Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS (mestrado e doutorado)