Diario do nordeste: Pesquisa revela mapa da violência entre jovens

20 de novembro de 2011 - 11:13

Publicado em 20 de setembro de 2011
Para os envolvidos no levantamento, faltam políticas públicas que possam prevenir os jovens de se envolverem em crimes, tirando-os das ruas e dando oportunidade de trabalho

ELIZÂNGELA SANTOS

Em 2009 e 2010, Juazeiro registrou mais de 570 homicídios. Destes, 178 envolveram jovens de 15 a 24 anos

Juazeiro do Norte. Uma triste realidade vem sendo constatada por estudiosos de universidades no Cariri e Estado. A região não está distante do mapa da violência entre os jovens.

O resultado dessa pesquisa, em estágio inicial, tem se revelado em números que os estudiosos consideram alarmantes para a região, inclusive de envolvimento com drogas como o crack, que tem aumentado consideravelmente. Nos anos de 2009 e 2010 foram registrados pela 20ª Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) e Instituto Médico Legal (IML), em Juazeiro, mais de 570 homicídios na região. Destes, 178 envolveram jovens de 15 a 24 anos.

Diante dessa realidade, um grupo de oito pesquisadores de instituições como a Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Regional do Cariri (Urca), Universidade Estadual do Ceará (Uece) e, também, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) decidiu estudar mais a fundo essa realidade, por meio de projeto da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Segundo o grupo, apontar alternativas de políticas públicas seria uma das saídas para a problemática.

O professor do Departamento de Ciências Sociais da Urca, Antônio dos Santos Pinheiro, afirma que, no momento, o que se tem são resultados parciais dos índices de homicídios. A equipe tem tido o cuidado de averiguar continuamente esses números e ele diz que mesmo não tendo fechado, continua na mesma proporção. “É uma espécie de mapa da violência do Cariri que cresce em sintonia com o que tem ocorrido no resto do Brasil”, explica. São jovens que se envolvem, segundo ele, muito cedo com as drogas e o mundo do crime.

Causas

As causas dos números coletados inicialmente estão relacionadas a situações diversas: pequenos furtos, roubos e envolvimento com o tráfico de drogas. São práticas criminosas que levam a tais estatísticas.

Enquanto isso, os pesquisadores também têm procurado ouvir os jovens dentro da faixa etária envolvida na pesquisa, entre pessoas condenadas que estão em presídios e abrigos de semiliberdade. A ideia é coletar dados que possam tratar de diagnóstico mais amplo das motivações que levam ao envolvimento com a violência e as drogas, principalmente.

“A nossa proposta de trabalho é formatar, pela primeira vez, dados relacionados a essa questão, uma discussão sobre a importância das atuais políticas públicas direcionadas à juventude, quais as carências”, diz o pesquisador. Para ele, é preciso ir mais a fundo nesse envolvimento precoce do jovem com a criminalidade, com destaque para assassinatos que envolvem o jovem como vítima e também como autor de crimes, incluindo execuções sumárias.

Outro ponto determinante, segundo o sociólogo, mesmo não estando dentro da faixa etária escolhida pelo trabalho, é que os crimes envolvem cada vez mais crianças e adolescentes, de 10 até 14 anos. “É a entrada precoce no mundo do crime”. Ele centraliza o problema do crack como elemento agravante desse processo. E desse ponto que o trabalho foi iniciado, a partir de uma discussão com os jovens. O problema é um sério agravante para a saúde pública e a segurança no Cariri.

Dos números apurados pela equipe, nove mulheres estão inseridas na contagem das mortes violentas, mas ele salienta o crescimento, mesmo sem um número definido das mulheres dentro do mundo da criminalidade, principalmente na relação com o tráfico de drogas. Mas a maioria mesmo é de pessoas do sexo masculino. E essa contagem tem a ver com a realidade nacional, que insere o maior número de homens nos homicídios.

O assassinatos que envolveram armas de fogo em 2009 chegaram a 55, além de 16 com arma branca. Já em 2010, foram 35 mortos com arma de fogo contra 5 com arma branca. Ele espera que o trabalho venha contribuir com os órgãos de atuação nas áreas das políticas direcionadas aos jovens. Mas ressalta a carência existente para possibilitar novas alternativas de desenvolvimento para a juventude.

A maioria dos homicídios envolve pessoas de bairros pobres de Juazeiro do Norte, como o João Cabral, Frei Damião, Triângulo e outros. Destaca também a necessidade de ações protetivas e de prevenção, dentro de todo o contexto de formação, incluindo o papel da família.

MAIS INFORMAÇÕES
Departamento de Ciências Sociais da Urca
Rua Cel. Antônio Luis, 1161 – Pimenta Crato-CE/ Telefone (88): 3102.1202

FALTA SOLUÇÃO
Políticas públicas são insuficientes

A problemática começa ainda com as crianças que, com acesso às drogas, acabam entrando no crime

Juazeiro do Norte. Cada vez mais crianças estão envolvidas com as drogas neste Município da região do Cariri. Essa realidade chega ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente da cidade. Uma demanda difícil, em muitos casos, de ser atendida em sua integralidade, pela ausência de órgãos que deem um acompanhamento permanente, a exemplo das casas de internação.

Mesmo com encaminhamento para projetos sociais, como os Centros de Referência em Assistência Social (Cras) e os centros de referências especializados, inclusive com assistência psicológica e social, as orientações que são dadas às famílias não são suficientes para dar um suporte eficaz para o problema.

É cada vez maior o número de crianças envolvidas com as drogas, principalmente o crack, segundo a presidente do Conselho, Maria de Fátima Martins. Para ela, ainda são poucas as soluções para esses problemas, que se apresentam em termos de Brasil. As políticas públicas são insuficientes para atender a real problemática em que se inserem esses meninos. “Já recebemos crianças de 10 anos, viciadas em crack”, frisa.

E o problema maior, de acordo com a coordenadora, está focado na família. Muitos são provindos de lares desfeitos. “Se a gente pergunta o que mais querem, a resposta que tenho ouvido com frequência é que os pais voltem a conviver”, afirma.

Retorno para as ruas

De acordo com Maria de Fátima, são crianças que recebem a assistência por uma hora e vão embora. Voltam na maior parte das vezes para as ruas, e não têm o carinho e a atenção necessários que o acolhimento familiar permite.

São falhas que envolvem a questão da afetividade dessas crianças e adolescentes e que levam ao distanciamento da família e a proximidade com o mundo das ruas e da marginalidade. E isso, conforme ela, ocorre em escala cada vez mais crescente. E mais uma vez a realidade social aponta crianças e jovens dos bairros mais pobres da cidade de Juazeiro.

MAIS INFORMAÇÕES:
Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente
Rua do Cruzeiro, 575, Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 3587.3349

Elizângela Santos
Repórter