Publicado em 1990, O caderno rosa de Lori Lamby, primeiro livro da chamada trilogia pornográfica da escritora Hilda Hilst, atravessa a linguagem em seu aspecto de obscenidade da pornografia. Teóricos e estudiosos da sexualidade e da pornografia, como Eliane Robert Moares (2004), costumeiramente utilizam-se das obras de Hilst na tentativa de estabelecer uma diferenciação entre dois polos diferentes para se mostrar a obscenidade na literatura: o erotismo e a pornografia. O objetivo desta comunicação é realizar uma análise fragmentada do discurso existente na obra, apoiando-se no que teorizou Dominique Maingueneau em uma de suas mais significativas obras em análise do discurso. Segundo Maingueneau, em seu O Discurso Pornográfico (2007), o termo "pornografia" foi primeiramente introduzido por N. Restif de Bretonne, em seu livro "Le pornographe ou la prostitution reformée ("O pornográfico e prostituição reformada" 1769), que fala sobre o controle da prostituição pelo Estado. O livro de Maingueneau trata da pornografia em amplo aspecto, além de pontos adjacentes, perpassando por seus "problemas de definição", além de tentar estabelecer uma diferenciação entre o "pornográfico, erótico, libertino", e conclui afirmando um "futuro incerto" para esse gênero da literatura - ou discurso. Tendo como intuito chamar a atenção da mídia e do mercado editorial, o romance em destaque tem como personagem principal Lori Lamby, uma garota de apenas oito anos de idade, que se aventura na "obscenidade" da sexualidade, sendo este o motivo que causou incômodo no público da época. Propomos, então, uma breve análise sobre a linguagem pornográfica e o discurso erótico/pornográfico nessa obra, buscando destacar as ironias e críticas de uma dama incompreendida e uma pornógrafa de mão cheia. Concluímos, portanto, que o trabalho busca não somente colaborar com a análise de uma obra/autora, mas prestigiar o trabalho desta escritora de múltiplos talentos e habilidades literárias.