As manifestações ocorridas em junho de 2013, as quais se destacaram pela mobilização nacional, fizeram com que a mídia questionasse, em notícias sobre os protestos, o papel e o "poder" do povo brasileiro. Diante deste panorama histórico, o presente trabalho irá analisar, o conteúdo verbo-visual da reportagem O retrato da Covardia publicada pela revista IstoÉ no período dos protestos. Para tal será utilizado como aporte teórico as propostas desenvolvidas por Bakhtin e o Círculo, tendo como categorias de análise a ideologia e entonação. O estudo realizado nesta reportagem demonstrou que o gênero discursivo analisado apresentou o posicionamento axiológico da autora, por meio da entonação, a qual é expressa em textos escritos através das escolhas lexicais e sintáticas, já no conteúdo verbal pelo foco da câmera no momento da captura da imagem e pelas cores que compõem as figuras presentes neste material. Esta constatação corrobora com a ideia defendida por Bakhtin e Voloshinov (2014) de que todo signo é ideológico, carregando, portanto, juízos de valor. Além deste fato, observou-se também o movimento dialógico entre Ideologia Oficial e Ideologia do Cotidiano, verificando-se que os signos, os quais refratam a realidade, apresentam diferentes interpretações a partir do espaço discursivo e de quem o enuncia. Os dados levantados nesta análise demonstraram, desta forma, a não neutralidade da reportagem estudada sobre as Manifestações de junho de 2013, pela entonação dada a este texto, assim como o embate realizado entre os signos "polícia", "manifestante" e "manifestação", os quais são plurivalentes, podendo ser representados de maneiras diversas dependendo do posicionamento ideológico do enunciador.