Lyric video: gênero emergente?
Herdeiros da revolução conceitual-metodológica de Mikhail Bakthin, considerado o "pai" dos gêneros do discurso (ou textuais), apresentamos uma pesquisa, desenvolvida a partir da disciplina Língua Portuguesa: Texto e Discurso, do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. Baseados principalmente nas reflexões do filósofo e pensador russo que abriram caminho para a conceituação dos gêneros, Bakhtin ([1953]2006), buscamos analisar a emergência e consolidação atual dos lyric videos, vídeos prioritariamente divulgados no portal Youtube que antecedem a divulgação do videoclipe oficial de canções, trazendo como característica recorrente a transcrição de suas letras, mesclada a construções visuais. Apoiados ainda nos apontamentos de Marcuschi (2001, 2005, 2008), quanto aos critérios de classificação e análise dos gêneros, e dos trabalhos de Araújo (2009) e Marcuschi & Xavier (2004) sobre Hipertexto, gêneros emergentes e reelaborações de gêneros, a pesquisa tenta reconhecer a ocorrência relativamente estável, nos lyric videos, do tripé conceitual bakhtiniano: estrutura composicional, estilo e conteúdo. Além desses traços, o propósito comunicativo dos textos analisados - lyric videos de artistas e bandas internacionais e nacionais como Alicia Keys, Maroon 5 e Cláudia Leitte - baseado, sobretudo no teor sociocognitivo de sua construção, mostra que eles possuem uma finalidade específica na comunidade discursiva em que se inserem, com características próprias da web. Assim, para além da dinamicidade interativa em que se estabelecem, os lyric vídeos podem ser pensados como um gênero que reelabora pelo menos outros dois, presentes na própria denominação, em inglês, do gênero; a letra da canção (lyric) e o videoclipe (video). A relativa estabilidade que ganham, dentro de sua instância criadora instável, levanta um questionamento vital para este momento de cada vez mais popularização desse formato audiovisual entre produtores e consumidores de música.