Quando pensamos a respeito do risível na comédia de Aristófanes e na literatura de Ariano Suassuna, parece-nos uma tarefa prazerosa estabelecer o entrecruzamento literário e oral para a constituição das figura de Diceópolis, o duplo cômico (matuto) de os Acarnenses (Aristófanes) e de João Grilo e Chicó, em o Auto da Compadecida que a partir de seus discursos, representam de forma autorizada, a própria voz do poeta, de forma a quebrar a normalidade social. Portanto, a presente investigação tem como proposta fazer uso do bem cultural herdado de Aristófanes e da comédia popular recontada em versos, através da literatura de cordel por Ariano Suassuna como forma de pensar nos principais recursos discursivos e cômicos que foram e ainda são utilizados na confecção de personagens. Em termos metodológicos, nossa pesquisa se apoia em uma perspectiva comparativista, considerando o contínuo uso da oralidade efetivado na Comédia como voz autorizada para, como nos afirma Lacan anunciar o estatuto da noção de linguagem e do próprio individuo, por meio de ações múltiplas, grotescas como forma de afastar-se do caráter de opressão para a compreensão e apreensão de uma verdade pura, muitas vezes advinda do social e das situações de injustiça, como defendida por Diceópolis em Acarnenses e por João Grilo em Auto da Compadecida. Justifica-se o estudo visto que nos valemos da análise das obras referidas por gravitarem em torno da temática proposta e abordarem de forma direta o discurso matuto e a construção dos duetos cômicos, deformadores da normalidade. As duas peças que compõem o corpus da nossa pesquisa apresentam como atrativo personagens como Diceópolis (cidade justa) e João Grilo que, vestem-se na defesa da paz em um ambiente corrompido por seus concidadãos a ponto de assumir um discurso denso e sociológico para alcançar este objetivo.