ENTRE A CIVILIZAÇÃO E A RELIGIÃO: O DISCURSO COMPORTAMENTAL DO JORNAL "O NORDESTE" (1922 - 1930)

MARIA ADAIZA LIMA GOMES

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Este trabalho tem como proposta discutir e analisar os discursos publicados no jornal católico "O Nordeste" a respeito do comportamento dos fortalezenses num período que vai de 1922 a 1930, a fim de perceber de que modo este se utilizava de seu discurso como instrumento moralizador da população. Era um discurso que buscava corrigir os hábitos e os costumes da população, adequando-os aos padrões de civilização almejados pelas elites locais da época. Nesse período, a cidade passou por grandes transformações econômicas e sociais, em que ocorreram tentativas de modernização e de civilização da cidade, por parte destas e dos poderes públicos. Para estes, comportamentos como a vadiagem, o alcoolismo, a prostituição, entre outros, eram tidos como transgressões, como práticas que deveriam ser evitadas, pois representavam atentados contra a moralidade e a ordem pública. Assim, através de notícias, queixas, denúncias, etc., este periódico buscava ajustar a conduta da população a uma moral civilizadora católica, criticando os comportamentos indesejáveis e ditando a maneira como se deveria agir no espaço urbano remodelado e aformoseado, maneira essa condizente com a modernidade pretendida pelas elites. Porém, percebemos que nem todos os novos comportamentos, vindos como consequência das transformações ocorridas na cidade, eram retratados de maneira positiva no citado jornal. Alguns, como a moda feminina, as danças nos bailes e as exibições cinematográficas, também eram representados em seu discurso como atentados à moral e males para a sociedade. A partir dessa percepção, acreditamos na existência de uma característica singular no discurso do referido jornal em relação ao dos demais do período, pois este ao mesmo tempo em que buscava moralizar a população, defendendo alguns comportamentos vistos como civilizados e modernos, criticava outros, que também eram vistos da mesma forma, porém iam contra as tradições da Igreja Católica. Acreditamos na existência de um paradoxo no discurso do "O Nordete": o periódico defendia a "modernidade" e a "civilização", mas com ressalvas. Estas eram boas até o momento que não afetassem os interesses da Igreja Católica. Quando isso acontecia, esta se posicionava a favor da manutenção das tradições locais e da própria Igreja. Para realizar nossas análises utilizamos como fontes o próprio "O Nordeste" e também outros periódicos contemporâneos seus, como o "Correio do Ceará" e o "Gazeta de Notícias", a fim de cruzar seus olhares a respeito dos valores e do comportamento dos fortalezenses, procurando perceber as singularidades no discurso e na visão de mundo do "O Nordeste". Pensando nisso, procuramos atentar-nos, para questões relacionadas aos costumes, às ideias do bem e do mal, aos valores e às normas de comportamento, assim como a condutas transgressoras, presentes em nossas fontes.