A DIMENSÃO POLÍTICA DO DISCURSO RELIGIOSO: A ELITE POLÍTICA LIMOEIRENSE E SUA RELAÇÃO COM A IGREJA CATÓLICA NO ESTADO NOVO

CINTYA CHAVES

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Nos últimos anos a historiografia brasileira tem lançado novos olhares a respeito do estudo das Elites.  Exemplo disso são as obras organizadas  por Flávio Heinz (2006), que tem se tornado referência por sua contribuição na dimensão do debate teórico-metodológico para quem elege o conceito de elite como chave de leitura para seus estudos. Nesse sentido, em Limoeiro do Norte, interior do Ceará, a partir da década de 1870 uma família que tinha como sobrenome "Chaves" começou a ascender socialmente se distinguindo de seus contemporâneos devidos aos cargos institucionais que ocupava. A partir de 1934 um de seus membros, Judite Chaves, deteve a liderança da Liga Eleitoral Católica, conseguindo eleger vários prefeitos municipais, dentre eles, o seu irmão José Gondim Chaves, adquirindo tanto "poder e prestígio", que Franklin Chaves, seu outro irmão, se elegeu deputado estadual por sete legislaturas seguidas (1947/1972) (NUNES, 2006 p. 32-40). Deste modo, estes atores foram usufruindo de experiências transcendentes aos demais que lhe eram contemporâneos  o que acarretou em ampliações de poderes devido ao poder institucional, conforme Wright Mills (1968),   que eles ocupavam. Portanto, este trabalho tem como proposta estudar o protagonismo das elites políticas de Limoeiro do Norte - CE, traduzido em especial na atuação da família Chaves. Entretanto, elegeu-se para este momento a ligação que esta elite teve com a Igreja Católica, tendo em vista esta instituição  ter lhe fornecido  poder político, ampliando, portanto, espaços de atuação,  como foi o caso da Liga Eleitoral Católica,  e também  um "poder ideológico",  através da produção de sentidos para as ações do grupo. Assim, o trabalho tem como objetivo analisar em que medida o discurso religioso assumiu uma  dimensão política e como as retóricas  "influíram" como códigos de legitimação daqueles que estavam  no poder, expresso, neste caso, pelas elites políticas locais. Esta pesquisa, tem  utilizado como fontes documentos eclesiásticos, livros memorialísticos, entrevistas e acervos orais, onde a metodologia da história oral se constitui um importante suporte para a análise. Também se utilizou o método comparativo entre o discurso proferido pelo o Estado Novo de um âmbito mais nacional, em especial através da obra a Sacralização da Política, de Alcir Lenharo e o discurso proferido pelo primeiro bispo Diocesano de Limoeiro do Norte. Até o momento temos percebido que o discurso religioso apresentou um teor conservador, autoritário,  corporativista, "anti-rebelista", "demonizador" de partidos não malquistos pelo Estado, demonstrando harmonia com o emitido pelo o Estado Novo. O momento da sagração do bispo de Limoeiro do Norte, em suas festividades e em seus discursos expressou a sacralidade a que se ancorava a política municipal em seu desenvolvimento no que concerne a sua legitimação e as produções de sentidos em que se estabeleciam as relações. Além do discurso religioso do primeiro bispo ter trago traços políticos indiretos, a tensão das disputas políticas que estavam presentes nesta cerimônia foram todas mascaradas pela celebração ao novo pastor, sem atenuar o caráter inconteste apregoado pela elite política como os grandes propiciadores daquela celebração.