“AQUI JÁ FOI BOM, AGORA TÁ TUDO ACABADO” A PERCEPÇÃO DA PASSAGEM DO TEMPO NA MEMÓRIA DE DONA ANA

FRANCISCA EUDESIA NOBRE BEZERRA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Francisca Eudésia Nobre Bezerra
eudesianobre@yahoo.com.br

Ao refleti sobre o tempo Nobert Elias (1998) afirma que à medida que envelhecemos sentimos a fuga dos anos no calendário. Para além das medidas físicas, como os relógios e calendários, o autor salienta ainda que a coerção do tempo é de natureza social e repousa sobre dados naturais como o envelhecimento, portanto a passagem do tempo é sentida com mais intensidade à medida que envelhecemos. Nesse sentido, através da metodologia da história oral, buscaremos compreender esse processo a partir da memória de Dona Ana, uma senhora de 66 anos, que através das suas recordações nos permitiu perceber como a passagem do tempo influenciou a sua vida. A memória além de funcionar como referência da passagem do tempo é guardiã de um passado social e individual do sujeito, portanto se apresenta como suporte no que concerne a essa percepção do tempo através do envelhecimento. A conversa com Dona Ana ocorreu no momento de uma visita a rua que ela viveu durante sua infância e adolescência, carregada de simbologias que serviram como um despertar da memória na medida em que ela ainda encontra vestígios do tempo passado, e tudo é motivo de recordação, uma flor, uma parede, uma árvore, uma cera, uma casa etc. a memória está ancorada em tudo que olha ao seu redor. Quando afirma que "aqui já foi bom, agora tá tudo acabado", faz referência a passagem do tempo que deixa suas marcas cravadas nos lugares de memórias, nos remetendo as palavras de JoëL Candaul (2011) quando este afirma que "a memória e a identidade se concentram em lugares, e em "lugares privilegiados", quase sempre com um nome, e que se constituem como referências perenes percebidas como um desafio ao tempo".