Flávio Teles Cardoso
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O artesanato no Ceará, atividade de trabalhadores autônomos, veio no decorrer da segunda metade do século XX se configurando nos planos governamentais de modernização do Estado como meio de inclusão de uma mão-de-obra que a indústria estava incapaz de absorver. No entanto, foi no mercado que se formava com o desenvolvimento do turismo que o artesanato se fortaleceu como veículo de transmissão dos símbolos da região, evidenciando uma identificação que singularizava o Estado cearense no mercado contemporâneo. Objetivamos com esta pesquisa entender o processo de construção dos significados do artesanato no Ceará contemporâneo.
A preocupação econômica de inclusão social, que se ordenou no discurso do grupo dominante que assumira o governo do Estado cearense desde 1987, tinha um caráter de controle social dos grupos populares que faziam uso costumeiro das atividades econômicas tidas como tradicionais.
Introduzir os artesãos na proposta do mercado contemporâneo para o Ceará significava, para as ações políticas governamentais, condicioná-los a uma aprendizagem comercial, produtiva e estética distante da realidade econômica e social do local de suas produções.
O resultado das tensões entre a ação do Estado, a intervenção de intelectuais e artistas, como também das ações dos artesãos, contribuiu para a produção dos significados do artesanato contemporâneo cearense que se fabricavam na dinâmica de seu próprio campo de atuação.
Pressupomos que, no decorrer do processo de configuração do campo do artesanato, artesão e artesanato se distinguem, ficando o primeiro sem o prestígio do segundo. O artesão anônimo, fazendo parte de uma massa de subempregados autônomos, encontrando legitimação para seu ofício artesanal em lugares organizados para representar o Ceará no mercado de produtos regionais. No lugar de reprodutores dos símbolos culturais da região eles se organizavam sem a credibilidade de criadores, inventores ou agentes de uma cultura popular, influenciada por intermediários culturais posicionados em condições maiores de poder de atuação no campo do artesanato do que os artesãos.
Utilizaremos como metodologia o cotejamento entre os documentos encontrados no Departamento de Artesanato do Ceará (DART), no acervo da Corporação dos Artesãos e Entidades Artesanais do Ceará (CAENART) e no acervo do Sindicato dos Artesãos Autônomos do Ceara (SIARA), juntamente com as entrevistas orais realizados com artesãos e técnicos do governo.