O presente trabalho discute duas relações de usos, no final do século XIX, da Praça Clóvis Beviláqua; localizada hoje no Centro da cidade de Fortaleza/CE. A partir dos Almanaques, principalmente, publicados por João Câmara na capital cearense pretende-se perceber as relações sociais constituídas no espaço da Praça e perceber as ligações que se formam entre a fábrica de sabão de propriedade de P. A Motta e & Cia.(e outros proprietários) com diversos estabelecimentos tais como tavernas e 'kiosques' situados naquele mesmo espaço e de propriedade de vários senhores como Avelino H. de Araújo, que permaneceu ali até 1903, ano de seu falecimento, e nos dois anos seguintes sua esposa (viúva. Avelino de H. de Araújo) permanece como proprietária de seu comércio, como citado no Almanaque daquele ano.
É necessário orientar espacialmente ambos na dimensão cartográfica de Fortaleza. A partir de Adolfo Herbster e sua planta de 1888, verificamos que a localização da Praça Visconde de Pelotas, denominação dada no período, ficava nas margens da região de maior ocupação de Fortaleza, conhecida como 'areal', mas que em breve receberia um maior fluxo de usos. Raimundo Girão, em Geografia estética de Fortaleza, dá notícias que aquela era uma localização 'herma e perigosa'. Perceber quem são os sujeitos que frequentam tais estabelecimentos (fábrica e taverna) e como esses locais são meios para pensar a cidade historicamente e conhecer os hábitos representados nos frequentadores de tavernas, vistos muitas vezes como baderneiros, bêbados ou envolvidos com prostituição, contravenções e crimes. Por outro lado, os trabalhadores de uma fábrica de sabão precisam também ser entendidos pelo próprio local em que empregam sua atividade diária. São sujeitos não muito atrativos pelo odor que exalam e pelo constante contato químico nas fábricas de sabão, que geralmente se localizam afastadas das áreas populacional das cidades, principalmente quando levamos em conta os discursos higienistas do final do século XIX. É a partir da visualização de ambos os estabelecimentos no perímetro da Praça que se podem considerar as relações de seus sujeitos na construção daquele espaço e as imbricações desse entrelaço.