“ESCRIBAS DO REI”: UM ESTUDO DE NARRATIVAS BIOGRÁFICAS SOBRE ROBERTO CARLOS.

EDMILSON ALVES MAIA JUNIOR

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O presente trabalho analisa narrativas biográficas sobre o artista Roberto Carlos com o intuito de perceber que imagens e valores foram veiculados ao se falar do cantor e como diversos autores lidam com dadas mitificações feitas sobre o "Rei" da música brasileira. As diferentes biografias, que versam sobre o artista, ou sobre personagens que conviveram com ele, destacam, de forma mitológica, o passado pobre do artista, o acidente na infância, a perseverança e fé obsessivas em busca do sucesso, as duras rejeições e importantes aliados nessa busca, à humildade e a gratidão em relação à família e amigos, o sucesso depois de muita luta, a manutenção da fama, a "coroação natural" devido a presença perene durante décadas como marco maior do mercado. Assim, ao estudarmos narrativas sobre o cantor debatemos dois aspectos em especial: como as narrativas contribuem para o fortalecimento do mito instaurando e/ou recriando novas memórias sobre ele e, assim, naturalizando-o; e como o "mito" do "rei" é usado pelas narrativas como forma de seus autores falarem de si e do passado tendo em Roberto Carlos um legítimo "Rei" da sociedade brasileira a ser reverenciado. As narrativas que falam da vida do cantor, diretamente, ou de forma tangencial, se configuram como atualizadoras do mito retirando dele a sua força ao mesmo tempo em que o reforçam e o espalham como um "Rei" - um legítimo protagonista de sua época, um "sinônimo do Brasil", um "líder carismático", um realizador de sonhos que não foram apenas seus, um verdadeiro mito. Destaque maior para o livro de Paulo César de Araújo, "Roberto Carlos em Detalhes", biografia proibida pelo cantor, e que empreendeu grande esforço de pesquisa e narrativa para se tornar a definitiva obra sobre a vida do artista promovendo, ao meu ver, uma "escrita hagiográfica" em que o mito é celebrado como o maior fenômeno da cultura de massas da história do Brasil, um astro de proporções heroicas e mágicas que todos devem saber em minúcias sua trajetória. Paulo Cesar de Araújo teceu uma narrativa que parece "nada querer deixar de fora", que tudo sabe e conta da vida do artista, que se propôs a ser um relato exemplar de uma trajetória que é medida pelo ponto de chegada: a consagração como um "Rei". O autor escreve como que deslumbrado pelo mito que assim devia ter uma biografia cheia de detalhes e à altura da magnitude do biografado. Tarefa levada a cabo por Paulo Cesar de Araújo que, ao cair em desgraça com o cantor que conseguiu recolher os exemplares do livro, viu sua homenagem ganhar surpreendente rumo nos territórios da memória sobre o "Rei" Roberto Carlos e virar mais uma biografia proibida a alimentar o imaginário sobre o artista. Como já acontecera com o livro "O Rei e Eu" escrito por seu ex-mordomo, Nichollas Mariano, em 1979.