Esse trabalho enfoca um coletivo intelectual que atuou na cena literária cearense durante a segunda metade do século XX. O conjunto de escritores, jornalistas e educadores que o compuseram desenvolveu uma série de percepções sobre suas práticas as quais, ainda hoje, embasam uma espécie de identidade partilhada cujos contornos foram largamente adotados pela crítica e pela literatura especializada. Assim, é comum encontrar relatos, ou análises inclinadas a aceitar tacitamente essas tendências narrativas, de maneira que aglutinam esses letrados referenciando-os por meio da expressão "CLÃ". O objetivo desse trabalho é problematizar as percepções elaboradas em torno do coletivo literário reconhecido como CLÃ, utilizando-se para tanto da categoria 'dono do grupo'. Dessa maneira, se acredita que é possível evidenciar conflitos e dissonâncias presentes nos diferentes espaços e instituições de circulação intelectual frequentados por seus integrantes. Além disso, pode-se também compreender como determinadas formas de sociabilidade - revistas, editoras e congressos - confluíram para produzir o movimento. Os conceito de 'donos do grupo' remete a posições importantes nas malhas de sociabilidade em que o restante dos membros se encontram inseridos. Dotados de uma espécie de força centrípeta, essas "lideranças" se estabelecem construindo afinidades e fazendo orbitar em torno de si um conjunto de redes sociais que, ao fim e ao cabo, tomam a forma de iniciativas intelectuais. O conceito de 'dono do grupo', contudo, não demarca um status, mas antes performances promotoras de coesão coletiva por meio das quais posições de prestígio poderiam vir a ser adquiridas.