O SAMBA: ENSAIO SOBRE UM CENÁRIO DA INSUBORDINAÇÃO POPULAR

ALAN PHILIPE MOREIRA SILVEIRA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

O samba, divertimento urbano e rural, popularizado em todo o Brasil (CASCUDO, 2005), aparece nos jornais do século XIX, seja no exercício literário ou da denúncia, como espaço diretamente associado à violência e à eventualidade criminal. Dito de outro modo, esse ambiente festivo das camadas populares - fossem livres, libertas ou escravizadas - atraía constantemente o olhar sisudo de entes do controle social, assim como a representação cristalizada dos literatos sobre a forma como os subalternos dispunham da sociabilidade. A partir disso, este texto busca discutir a produção dos discursos sobre os populares e seus cenários de diversão no Ceará do Oitocentos, por meio de jornais do período, a exemplo do Pedro II (1840-1889); O Cearense (1846-1891); A Constituição (1863-1889) e outros excertos literários. Com isso, nesta análise, buscamos encarar o texto literário, aquele produzido e disposto nos periódicos oitocentistas, como "expressões simbólicas de autoridade, controle e hegemonia" (THOMPSON, 2012, p. 229) em edificação. Nossa hipótese é a de que tais produções, com o propósito de registrar e apresentar antigos "costumes da roça", acabavam, de forma involuntária ou não, corroborando com a perspectiva de reputar aos espaços e práticas populares de sociabilidade uma incivilidade inerente à classe, de forma semelhante as narrativas de denúncia. Por outro lado, o samba, visto além do recorte semântico que alinhava a produção folclórica ao conteúdo das denúncias nos jornais, conformando as perspectivas e a mentalidade dos grupos letrados e dirigentes, pode, a partir "de baixo", ser entendido como um cenário do "contrateatro" popular, em que homens e mulheres da plebe, buscando distância da deferência paternalista, manifestavam abertamente seu antagonismo (THOMPSON, 1998).