É VOCÊ QUE AMA O PASSADO E QUE NÃO VÊ QUE UM SERTÃO NOVO SEMPRE VEM: IMAGENS EUCLIDIANAS INCORPORADAS PELO CINEMA NOVO E RESSIGNIFICADAS PELA TELEFICÇÃO

AURORA ALMEIDA DE MIRANDA LEÃO

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Este artigo analisa a construção narrativa da supersérie Onde nascem os fortes, exibida pela TV Globo em 2018, no horário das 23h, com texto de George Moura e Sérgio Goldenberg, direção de fotografia de Walter Carvalho e direção artística de José Luiz Villamarim. Ambientada no interior nordestino, a produção teve locações no cariri paraibano, onde elenco e equipe técnica ficaram quatro meses. Entendemos que a série apresenta diversas intertextualidades com discursos sobre o Nordeste que a antecedem, potencializando um subtexto do qual extraímos ascendência no livro seminal de Euclides da Cunha, Os sertões (1902). Segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr. (2019), "A palavra sertão nos remete a um conjunto de imagens e temas que foram construídos ao longo do século 20 e que envolve diversos clichês e estereótipos". Afirmando ser a existência do vocábulo bem anterior a criação do conceito Nordeste, pois já aparecia no vocabulário português desde os séculos 14, 15 e 16 como um "lugar desabitado, lugar do vazio, do silêncio", o pesquisador indica serem múltiplos os significados atribuídos ao sertão. Corroborando com essa interpretação, o escritor George Moura (2018) descreve o universo conceitual da teleficção como "Um retrato do sertão contemporâneo. Ainda temos a questão da seca, as diferenças sociais. É um reflexo dos problemas atuais". Assim, a fictícia cidade de Sertão funciona como uma diminuta sucursal da Nação, na qual há uma vastidão ininterrupta de problemas, bastante conhecidos da urbanidade, a se suceder com persistente vigor: desvios de verbas, desmandos, corrupção, traições de todo tipo, preconceitos, opressão, injúrias, abusos sexuais, condutas abjetas da classe política, e descalabros éticos e morais que parecem refletir exatamente o que acontece nos focos do poder central e diariamente fornece material para o jornalismo. Destarte, guiada pela pergunta "Como a narrativa revela ascendência na obra seminal de Euclides da Cunha e como o roteiro da teleficção remete a filmes emblemáticos do Cinema Novo?", objetivamos flagrar como a inspiração na obra literária do início do século XX alcança a teledramaturgia no século XXI, como ratifica percepções arraigadas no imaginário nacional sobre a região nordestina, e também como evidencia pautas como colonialismo, machismo, opressão e violência simbólica. Para isso, optamos por metodologia híbrida, baseada na desconstrução dos alicerces narrativos, a partir da proposta de Luiz Gonzaga Motta (2013), e da investigação do imaginário, a partir das tecnologias, como propõe Juremir Machado (2012).