Artista múltiplo, Víctor Jara (1932-1973) foi diretor de teatro, ator, folclorista, cantor, compositor e um dos principais nomes do movimento da Nova Canção Chilena. Militante do Partido Comunista Chileno, ofereceu apoio a Salvador Allende durante a campanha eleitoral da Unidade Popular em 1970 e, posteriormente, passou a integrar o governo eleito, nomeado como Embaixador Cultural (1970-1973). Em setembro de 1973, poucos dias após o golpe civilmilitar, Víctor foi torturado e executado no Estadio Chile. Após o trágico assassinato, seu legado artístico e trajetória política e pessoal foram ressignificados, servindo a narrativas memoriais que colocaram a sua figura como mártir de resistência. A bailarina Joan Jara, viúva do artista, foi figura central nesse processo. A partir do exílio em Londres, em dezembro de 1973, Joan preservou itens do acervo pessoal - cartas, recortes de imprensa, fotografias, discos e vestes - se empenhando na perpetuação do "legado" de Víctor e na militância pelos Direitos Humanos junto às redes de solidariedade cultural e resistência formadas na Europa. Fundado em 1994, no contexto de redemocratização do Chile, o Archivo Víctor Jara constitui-se como uma organização institucional de custódia e conservação do "legado" de Jara. Utilizando os recortes de imprensa preservados por Joan inicialmente em seu acervo, com vistas à construção do Archivo, o presente projeto se propõe a investigar como as narrativas memoriais sobre a figura de Víctor Jara foram construídas. Assim como, identificar as representações, identidades e silenciamentos envolvidos na formulação e difusão de narrativas memoriais sobre sua figura, trajetória e legado engendradas na elaboração do acervo.