O golpe militar instaurado no Brasil em março de 1964 desembocou numa ditadura que durou 21 anos. Os governos foram militares, os presidentes eram generais, mas a articulação do golpe e a manutenção desses governos contou com participação de diversos indivíduos e grupos da sociedade civil. O regime utilizou de diferentes mecanismos buscando legitimação e a eliminação de discursos, indivíduos, grupos e tudo o que representasse uma ameaça. Para tal, a Escola Superior de Guerra foi fundamental para a elaboração de uma Doutrina de Segurança Nacional. A ditadura tinha traços de guerra e a Doutrina buscava combater os inimigos internos, geralmente associados aos comunistas e a todos os comportamentos que parecessem desviantes. Diversos mecanismos e instituições foram mobilizados, inclusive a educação, objetivando delinear o inimigo interno. Os livros didáticos de Educação Moral e Cívica foram fundamentais na construção de modelos de cidadãos e condutas. Buscando a exaltação da pátria, de suas instituições e de seus heróis e para ser ensinada em todos os regimes e sistemas de ensino, foi criada a disciplina de Educação Moral e Cívica. Nos materiais didáticos desta disciplina há preocupação com instituições e valores considerados fundamentais pelo regime e ameaçados pelo perigo vermelho: a moral, a família, o casamento... Neste trabalho buscamos analisar as mobilizações das identidades sexuais e de gênero pela ditadura nos livros didáticos da disciplina de Educação Moral e Cívica.