RESUMO
O presente trabalho tem como intuito mostrar um estudo em andamento que consiste na análise de documentos oitocentistas do Ceará, referentes à escravidão, especificamente o comércio envolvendo os negros escravizados. Partimos da premissa de que o gênero textual escritura é um potente suporte informativo que detém muitos pontos de contato com a realidade extralinguística e, por isso, nos permite acessar a história e a cultura de um povo. O estudo consiste na análise de lexias presentes nos documentos e, a partir da análise destas, investigar aspectos históricos das escrituras e sujeitos envolvidos no sistema de compra e venda de escravizados. Desse modo, fundamentando-nos na Filologia, amparados em Ximenes (2009), na Lexicologia, embasados em Biderman (1987), e na História Social, com base em Funes (2007), e percorremos os seguintes caminhos: inicialmente, selecionamos cento e setenta e cinco escrituras de compra e venda de escravos datadas do período de 1870 a 1873. Em sequência, baseando-nos nas normas de edição reelaboradas pelo grupo de pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará (PRAETECE), editamos semidiplomaticamente todos os documentos. Realizamos, a posteriori, o levantamento das lexias presentes nas escrituras. Feito isso, organizaremos e analisaremos esses aspectos linguísticos, compreendendo seu sentido dentro do discurso social e jurídico sobre a escravidão, descrevendo e levantando hipóteses sobre aspectos histórico-sociais da comercialização de escravizados na província cearense. De modo específico, a pesquisa pretende compreender um pouco da história do Ceará nos oitocentos no que se refere à escravização de negros.