As notícias eram claras: o cólera cercava a província. O século XIX, marcado pela expansão do sistema capitalista, entre teares e as chaminés dos barcos à vapor as distancias do império inglês eram reduzidas. Da Índia transportaram o vibrião do cólera morbo. Em 1832 a peste chegou a Europa, colocou em xeque seu narcisismo industrial. A América do Norte teve suas primeiras e graves experiências com a doença. Apenas em 1855 o cólera caminhava para o sul. Embarcado na galera Deffensor chegou ao Pará. Em meses, estados do Norte (hoje Nordeste) estavam sofrendo a ceifa do "anjo do extermínio": Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Do Ceará, governantes, administradores públicos e a população recebiam as noticias por meio de vapores vindos de outras províncias. Muito se falava sobre a crueldade da epidemia e da velocidade com que vitimava seus alvos. O principal meio de informação da população eram os jornais: Pedro II e O Cearense, os dois jornais vinculados a grupos políticos, conservadores e liberais respectivamente, abordaram a doença de formas distintas. Pedro II, correspondente do governo e contratado pelo para transcrever as ações deste e fazendo as vezes de diário oficial dava ciência das ações do poder público para impedir a entrada da peste ou pelo menos minorar a crueldade. O Cearense, no momento oposicionista denunciava a morosidade do governo e a necessidade e cuidados por parte da população. Divulgava novenas, orientações médicas de outros jornais brasileiros, críticas e exortações. Além destes, abordaremos O Araripe, jornal político da região do Cariri e O commercial, joranl de maior carga crítica as ações do governo entre os anos estudados. Tendo os jornais como fontes primárias de nossa reflexão, temos o objetivo central de perceber as distintas abordagens acerca da epidemia de cólera que se avizinhava e perceber como uma mesma doença torna-se múltipla nas mãos de opositores políticos. Desde já podemos concluir que os interesses políticos partidários influíram diretamente na forma como as notícias relativas a doença foram transmitidas a população cearense