"CAMINHANDO AO CAMPO SANTO PELO SERTÃO EU VOU...": A CONSTRUÇÃO DA CAMINHADA DA SECA, SENADOR POMPEU- CE (1982-2010).

KAROLINE QUEIROZ E SILVA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

O presente trabalho tem como objetivo analisar a construção da Caminhada da Seca a partir das disputas de narrativas em torno das memórias da seca de 1932. As narrativas são utilizadas para legitimar as posições de diversos sujeitos dentro da celebração, ora dando ênfase aos aspectos místico-religiosos, ora ressaltando acontecimentos da cidade e posicionamentos políticos. A caminhada ocorre em Senador Pompeu, em todo segundo domingo de novembro, desde 1982, quando o padre Albino Donatti reuniu a população para homenagear as almas santificadas dos falecidos na seca de 1932. A cidade abrigou um dos setes campos de concentração construídos no Ceará durante a grande seca. Os relatos de sofrimento de seus sobreviventes e a presença das ruínas das instalações contribuíram para criar um campo simbólico propício para o desenvolvimento da crença, que leva milhares de pessoas ao Cemitério da Barragem, monumento simbólico construído no local onde eram enterrados os falecidos em 1932, em valas comuns. A crença, antes informal e realizada por pequenas ações dos populares, toma um caráter institucional através da romaria iniciada por padre Albino. Com sua crescente divulgação a partir de fins da década de 90, a história ganhou visibilidade e passou a atrair cada vez mais visitantes. Percebemos a ação de alguns sujeitos nessa divulgação que não estão ligados à igreja e, em algumas ocasiões, se posicionam de forma contrária à instituição. Como os elementos místico-religiosos e políticos convivem dentro da celebração? A partir das fontes orais, documentos, impressos e documentários, percebe-se a junção de elementos políticos e religiosos, que juntos utilizam o passado de 1932 para legitimar a romaria. Com leituras como E.P.Thompson, George Rudé e James C. Scott, a multidão que está presente todos os anos na caminhada se torna o centro do estudo e suas ações dentro e fora da celebração são fundamentais para entender a relação entre os elementos religiosos e políticos. Portanto, o cerne desta pesquisa está em perceber a caminhada como um lugar de interação desses sujeitos que estão entre conflitos e negociações por seu espaço e suas crenças.