O presente trabalho traz como recorte temporal um dos períodos mais críticos da História brasileira, a passagem do Império para a República. Em novembro de 1889, o movimento militar republicano depôs o Estado brasileiro imperial. Porém, antes mesmo da deposição do Império, já se havia uma discussão latente, na crista do Império, sobre o fim do escravismo. Com o fim da mão de obra escrava negra, era necessária a contratação de trabalhadores livres para a lavoura, já que o café era a principal renda do Estado brasileiro durante essa transição política.
Baseados no evolucionismo social, o cientificismo em voga na Europa do século XIX, os governantes brasileiros optaram por introduzir nos campos brasileiros europeus brancos que seriam o ápice da civilização e viriam não só para ajudar o trabalho braçal das lavouras, mas também no branqueamento desse "país promissor."
Do outro lado dessa corrente imigratória europeia, o Governo brasileiro e a elite da lavoura paulista eram favoráveis em trazer miseráveis nordestinos para o trabalho, assim haveria uma ajuda mútua, entre "senhores do café" e miseráveis cearenses assolados pela seca. Porém, toda essa migração cearense tomou ares excepcionais.
Caio Prado, então presidente da província do Ceará, encontra uma das mais terríveis secas do século e com isso, mais uma vez, a capital cearense está repleta de refugiados da seca e a política implantada era migrá-los para qualquer outro local. O norte (Amazônia) era o destino preferido pelos jornais, pois para lá o cearense poderia "crescer e retornar para sua terra natal", como conclamava o jornal "O Cearense" amplo apoiador da migração para o norte.
Porém o paulista presidente da província cearense e herdeiro de lavouras no sul (Caio Prado era filho de grandes proprietários de terras em São Paulo) estava preocupado com sua terra natal fazendo-o agir em prol da elite cafeeira ao forçar a ida desses miseráveis para o sul, mais propriamente o interior de São Paulo.
Então a situação que temos é a seguinte: milhares de refugiados da seca em Fortaleza, hum presidente paulista no comando da província do Ceará, uma rota estabelecida pelos "patriotas cearenses" (norte), uma difícil situação para os donos de lavouras no sul com a perca dos escravos, uma política de imigração que perde na concorrência com os Estados Unidos e a "boa recepção" dos fazendeiros aos mestiços que, por não terem os tão desejados brancos europeus, se contentam com os mestiços do norte.