"NOTÍCIAS DA PROVÍNCIA OU NOTÍCIAS DO BRASIL?": O PAPEL DA IMPRENSA NO PROCESSO DE (DES) CONSTRUÇÃO DA UNIDADE TERRITORIAL E POLÍTICA NO BRASIL (1824)
Francisco Weber Pinto Porfírio1
weber.porfirio@hotmail.com
O ano de 1824 foi marcado pela tentativa de estabelecer uma unidade territorial e política através da Carta Lei de 25 de março. Nossa primeira Constituição pretendia satisfazer os anseios reivindicados por uma elite agrária, que cientes do fechamento da Assembleia Constituinte (1823), aguardavam um projeto duplamente liberal. O documento não supriu o ideal almejado, ou seja, não conseguiu fomentar os laços de união entre as províncias, haja vista às disputas políticas locais e regionais, acentuadas pelas disparidades entre as províncias do Norte e Sul, a ausência dos grupos pobres no processo de emancipação política, e a incoerência ideológica no projeto de governo (federalismo, república, monarquia).
Concomitantemente a época (Primeiro Reinado), desenvolvia-se a imprensa no Brasil. No decurso de quatro anos (1820-1824), os jornais e os redatores ganharam certa notoriedade, se a Imprensa Régia apenas divulgava informações oficiais, os jornais posteriores, principalmente após a suspensão da censura (1821), passaram a formar um campo de opiniões e debates acerca da situação no Reino, da emancipação política, e do modelo de governo pretendido, neste sentido, a realidade social passava a ser representada nas páginas dos periódicos, fornecendo novas percepções para a elaboração de outras realidades.
Nesse sentido, o referido trabalho tem como objetivo, discutir as diversas interpretações dos projetos políticos pensados para o recém criado Estado brasileiro em 1824, partindo da análise dos seguintes jornais: O Spectador Brasileiro (RJ), A Abelha do Itacolomy (MG), Diário do Governo do Ceará (CE) e Typhis Pernambucano (PE), ambos editados entre 1823/24. Utilizar a Imprensa como fonte, significa considerar uma gama de vocabulários, ideologias e interesses políticos, que no final das contas, intervirá no cotidiano do indivíduo, formando o que podemos chamar de Cultura Política, que segundo Sergie Berstein (1998, p. 363), constitui,
[...] compreender as motivações dos actos dos homens num momento da sua história, por referência ao sistema de valores, de normas, de crenças que partilham, em função da sua leitura do passado, das suas aspirações para o futuro, das suas representações da sociedade [...].
1Graduado em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo Sociedade e Cultura no Brasil Oitocentista (SEBO).