O advento da República, no final do século XIX, foi marcado, dentre outras coisas por uma crescente política de medicalização social e reordenação dos centros urbanos. A crescente migração para as principais cidades brasileiras ocasionou um grande crescimento populacional e, com ele, uma série de problemas sociais e sanitários. Para lidar com esses problemas, surgiu uma série de institutos governamentais, como a reedição dos códigos de posturas municipais, como forma de controle da vida cotidiana, tanto na sua esfera pública como privada. Esse processo de remodelação urbana ficou conhecido, nas grandes cidades como Belle Èpoque, uma referência à influência francesa, símbolo de civilidade no Brasil, no período. No entanto, os efeitos dessas políticas de controle social nos lugares mais afastados das capitais ainda são pouco explorados e despertou o interesse dessa pesquisa. Dessa forma, busca-se analisar a organização e o cotidiano da Vila de Guarany, interior do Ceará, nos anos finais do século XIX e os impactos do Código de Posturas Municipais de 1898 na Vila e na sociedade. Considerando que a recente emancipação da Vila (1890), o Código de Posturas representaria uma tentativa de modernização do espaço e das práticas humanas locais, tentando romper com alguns costumes populares em nome da modernidade. Essa tentativa de ampliação do poder do Estado na esfera privada se opera justamente em um contexto marcado pela ausência do poder público, possibilitando o estabelecimento das relações de poder privadas, conhecidas, popularmente como coronelismo.