As análises sobre os processos migratórios recentes vêm apontando para a necessidade de ampliação da perspectiva dos estudos das mobilidades para além dos condicionamentos demográficos, econômicos e sociais, determinados por crescimentos populacionais, ou mesmo, produto de mecanismos da ordem da impessoalidade, do push-pull dos mercados nacional e internacional. O presente trabalho tem como objeto de estudo a memória social de migrantes cearenses através das escrituras pessoais. Esta proposta possibilita captar sociabilidades, sensibilidades e afetividades que marcam o deslocamento desses sujeitos e se fazem presentes nas escritas das mobilidades. Os escritos pessoais analisados datam de 1972 a 2009. Este recorte temporal permite, pela peculiaridade das fontes e sua extensão no decorrer de décadas, analisar pontos de vistas, protagonismos e trajetórias de sujeitos, indo desde uma época em que era comum o uso do rádio como vínculo mais direto de comunicação até a popularização da internet como meio de comunicação direta na primeira década do século XXI. As fontes da pesquisa se materializam em cartas de amor, diários, cartões de felicitações, orações escritas em cadernos pessoais, mensagens curtas encontradas em cartões de visitas, fotografias, etc. Comparando e contrastando as fontes, visamos compreender versões de histórias sentidas e vividas, como expressão de experiências coletivas, por migrantes cearenses. Ao partirmos de uma perspectiva cultural e pensarmos a construção da memória social através das escrituras populares, objetivamos estudar trajetórias de sujeitos entre normas e práticas; as experiências de viver nas cidades, captando sensibilidades; a constituição de identidades e diferenças em contexto de deslocamento, bem como, analisar um entrecruzar da oralidade na cultura escrita por meio de arquivos privados. Entendemos que partindo do estudo de nosso objeto serão tramadas tessituras sociais com o alinhavar de registros encontrados em fragmentos cartas, por meio de indícios deixados na estrada da vida por indivíduos, podendo revelar-nos subjetividades e afetividades acontecidas numa migração.