Nome: Jonatas Jonas Silva dos Santos
E-mail: eujonatasjonas@gmail.com
Cultivo de algodão e Progresso provincial: natureza, tempo e projetos políticos no Ceará dos oitocentos.
Este resumo faz parte de uma pesquisa em andamento sobre mudanças nas relações sociais de produção no cultivo algodoeiro. Tratamos, em vista deste fragmento, do trânsito de técnicas no cultivo de algodão relacionadas a novas percepções de tempo no cotidiano de agricultores cearenses em meados dos oitocentos. Assim, já em 1801 é publicado um compêndio sobre processos químicos no cultivo algodoeiro de Berthollet, uma tradução do francês para o português, organizada por Manuel Arruda da Câmara, estudioso de processos físico-químicos relacionados a tipos de cultivos mais eficientes no algodoeiro, que tratava de uma "Descripção do branqueamento dos tecidos, e fiados de linho, e algodão, pelo acido muriatico oxigenado, e de outras suas propriedades relativas as artes", impressa em Lisboa, na "typographia chalcographica, typoplastica, e litteraria do Arco do Cego". Relacionado aos interesses capitalistas do comércio internacional de algodão, esse escrito já traz um importante elemento indispensável a esse comércio promissor, a estética do produto, e, ao mesmo tempo em que indica problemas de natureza física que afetam o desenvolvimento algodoeiro, propõe lucrativas soluções engenhosamente verificáveis nos domínios da química. Por outro lado, Arruda da Câmara, preocupado em bem ser útil aos interesses imperiais, já escrevia uma memória por volta de 1799 em Pernambuco, em vista da primeira experiência vivida no Maranhão. E se este fora o primeiro a adentrar virtualmente no circuito algodoeiro que se mundializava e prometia um rápido progresso, o exemplo maior de potência de cultivo nesse ramo prematuramente se projetava nos Estados Unidos da América. Criticando a imprudência em não procurar observar diligentemente o laboratório a céu aberto que é a natureza, diz Câmara, em vista disso, que "nem por isso aprenderão a trabalhar por mais fácil methodo, não abreviarão as suas operações, e caminharão finalmente pelo trilho antigo dos mesmos prejuízos, em que viverão seus maiores" (CÂMARA, 1799, p. I). Ao falar dessas produções científicas e memórias de homens de letras a serviço da Coroa portuguesa, é importante pensarmos o circuito maior em que o Ceará está se inserindo ao entrar desde o final do século XVIII nas rotas comercias do capitalismo industrial nascente como um promissor exportador de algodão, principalmente com os ingleses e norte-americanos. Assim, há uma lógica que habilita o trânsito de determinados saberes e ideias nos espaços de algumas localidades cearenses. Diante disso, buscamos analisar historicamente esses processos relacionados aos interesses comerciais voltados para o cultivo algodoeiro.