O espaço da casa, ou seja, o privado, é visto pela sociedade como um espaço individual, aquele que aglomera de uma forma bem subjetiva seus pensamentos e sentimentos. O espaço privado da casa-habitação traduz uma construção cultural e social de uma determinada época. No entanto, conforme as regras que historicamente regeram à instituição familiar, a casa é vista e propagada como um espaço quase exclusivamente feminino, ou seja, assim como a rua e o público liga-se socialmente ao masculino, a casa e o privado, em sentido contrário, estar para a mulher. Nessa perspectiva, Natércia Campos, escritora cearense, faz surgir em meio as histórias contadas ao pé do alpendre uma casa natal que nos faz voltar ao tempo e desejarmos rememorar lembranças da infância, objetos guardados e cômodos detalhados. Nosso estudo se propõe analisar o espaço privado e místico da casa, e sua relação com a representação feminina inserida na obra A Casa (1999), da escritora Natércia Campos. Uma casa antropomorfizada e memorialística que narra fatos recheados de simbologias e representações, principalmente no que se refere o desenrolar de cinco gerações de mulheres pertencentes à mesma família. As crenças, as superstições e a dualidade Vida e Morte são temas recorrentes dentro das dependências dessa habitação, buscando na cultura popular as relações casa-mulher-imaginário. Como suporte bibliográfico, destacamos as grandes contribuições de Gaston Bachelard, Câmara Cascudo, Roberto DaMatta, Gilberto Freyre, Georges Duby, Philippe Àries no que se refere ao espaço privado da casa e sua simbologia, e nomes como Simone de Beauvoir, Michelle Perrot, Mary Del Priore, Elódia Xavier, no que se refere aos estudos sobre a mulher na sociedade e literatura.