TRASMISSÃO DE EXPERIÊNCIA OU IMPULSO NARCÍSICO? A ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA DE RAIMUNDO ARRUDA EM MEMÓRIAS DE UM MENINO.
Carolina Maria Abreu Maciel
carolabreu.historia@yahoo.com.br
"Narrar-se não é diferente de inventar-se uma vida". Partindo da afirmação de Calligaris, em Verdades de autobiografias e diários íntimos, podemos refletir sobre o lugar do sujeito que se inscreve e, que por meio de seus relatos de vida e escritos autobiográficos vão expor suas experiências, alguns com impulsos exemplares outros como forma de imprimir importância sua trajetória vivida no fim de sua existência. Com o retorno da narrativa e os debates em torno das relações entre História e Memória, os escritos biográficos e autobiográficos vão fomentar novas reflexões e usos para a escrita da História. Sabemos que por muito tempo estas fontes foram relegadas a segundo plano, pois eram tidas como não verificáveis, já que passavam por processos de seleção, lembrança e esquecimento, julgamento e muitas vezes alterações e deformações, como afirma Giovanni Levi, em seu texto Usos da biografia. Este trabalho tem como objetivo analisar a escrita autobiográfica de Raimundo Arruda, em seu livro Memórias de um menino. Nossa proposta é refletir sobre a estrutura escolhida para narrar sua trajetória de vida, tendo como impulso, primeiro, a transmissão exemplar de suas experiências para as gerações futuras de sua família, pois que, como afirma seu amigo e prefaciador Abelardo Montenegro "não resta a menor dúvida que é a transmissão de experiência a melhor justificativa da autobiografia". Pretendemos entender como este sujeito se auto define, como percebeu a si mesmo enquanto indivíduo coletivo e singular. Nosso objetivo vai muito além de uma análise pormenorizada do texto em si, pois buscamos compreender como, este, percebeu a cidade de Fortaleza e as transformações pelas quais, esta, passou ao longo das décadas de 1920 e1930. Enfim, tencionamos, através da análise dos escritos de Raimundo Arruda, perceber como este construiu suas redes de sociabilidade e ao refletir sobre elas com o intuito de elaborar uma autobiografia pôde entender-se como sujeito de sua própria história.