A pecuária cearense entre o passado e o futuro: discursos de modernização da indústria pastoril no século XIX.
Alberto Rafael Ribeiro Mendes
E-mail: albert.rafinha@hotmail.com
Uma imagem se impôs a atividade pastoril cearense ao longo do século XIX, a de uma pecuária "semi-selvagem", marcada por um sistema bravio de criação. Produto de uma série de discursos feitos por viajantes, intelectuais e políticos ao longo do século XIX, esta imagem sugeria, de um lado, a obsolescência da pecuária no Ceará, o "atraso" de seus métodos, e de outro, pregava a necessidade de modernização dos processos pastoris pela introdução de novos mecanismos de criação, afinados com os preceitos científicos em voga no momento, e com vistas ao alcance do progresso e da civilização do Ceará e do Brasil. A pecuária, da forma como era praticada até então, era um problema. Pretendemos analisar as articulações entre as categorias passado e futuro, ou, para utilizarmos os termos de Reinhart Koselleck, "espaço de experiência" e "horizonte de expectativas", nos discursos de modernização da pecuária. A proposta é analisar como os discursos carregados de progresso e civilização de intelectuais, cientistas e políticos contribuíram para caracterizar o "atraso" e a "rotina" da pecuária. Pretende-se discutir como o olhar para o futuro, o desejo de progresso, indício de uma nova relação temporal, moldou os discursos. Cabe pensarmos na defesa de um distanciamento entre as experiências pretéritas e as expectativas de uma indústria criadora modificada, como mecanismo de inserção do Ceará em um novo tempo, um moderno tempo.