RAUL KENNEDY GONDIM PEREIRA- raulken1@hotmail.com
O Clube de Cinema de Fortaleza foi um cineclube criado oficialmente em 28 de dezembro de 1948. O modelo cineclubista é esboçado nas primeiras reuniões. Nessas, como é possível acompanhar em notícias publicadas no jornal "Unitário", delibera-se a "realização de reunião quinzenal de estudos, para a crítica de filmes exibidos em Fortaleza", planeja-se a produção de um boletim a ser publicado em um dos jornais da cidade. Destaca-se entre as medidas inicias, aquilo que pode ser considerada a principal finalidade de um cineclube: "possibilidade de serem passados filmes não comerciais para os sócios do Clube". Consagra-se o modelo descrito em Baecque sobre a prática do cineclubismo e, especialmente, da "cinefilia", referente ao movimento cineclubista francês do período do pós-guerra. Os cineclubes são instituições orientadas por uma prática de cinefilia, "considerada como maneira de assistir aos filmes, falar deles e em seguida difundir esse discurso [...]". (BAECQUE, 2010). A primeira medida no sentido de fazer o clube funcionar como associação dedicada ao culto e à apreciação do filme, em moldes diferentes daquele das salas comerciais de cinema, foi criação de uma diretoria executiva provisória. Formada por Otacílio Colares, Antônio Girão Barroso, numa estratégia de transferir ou associar ao CCF o prestígio de que gozavam no meio jornalístico e intelectual de Fortaleza e do papel central que ocupava nos jornais. O mais jovem dos membros da diretoria executiva, com 22 anos, nos termos de Pierre Bourdieu, o de menor capital político, econômico e simbólico naquela ocasião, Darcy Costa, assumiu a diretoria de correspondências e relações exteriores. O CCF através de suas atividades de sociabilidade constitui um polo de difusão de cultura cinematográfica e de cinefilia entre seus membros. A sociabilidade gerada em torno da prática cineclubista, intimamente relacionada ao interesse pelo cinema é decorrente da instituição de uma sociabilidade "formal", adotando o modelo apresentado por Maurice Agulhon, em "El círculo Burguês" (2009). Por sua vez, a prática do CCF orientava-se por um projeto de difusão da cultura cinematográfica. O diálogo com os textos de Paulo Emílio Sales Gomes publicados n'O Estado de São Paulo, que versavam sobre o panorama do cinema, da crítica de cinema, do movimento de cultura cinematográfica, do papel das cinematecas na difusão da cultura cinematográfica e do lugar ocupado pelos cineclubes ajuda a situar a atuação do CCF no contexto do movimento cineclubista brasileiro surgido a partir da década de 1940.