No processo de constituição de uma identidade regional de cearense, a historiografia local do fim do século XIX e início do século XX elaborou alguns mitos fundadores como base deste processo de formação desta identidade de ser cearense. Nesta, a figura do herói fundador ou redentor se fez expressar em personagens como Martins Soares Moreno e José Martiniano de Alencar, o primeiro, uma das figuras históricas a quem se atribuiu o papel de herói fundador, aquele que, com seu esforço e sêmen fertilizou a terra e o ventre das nativas, para dar origem ao povo cearense. O segundo, o redentor, o homem missionário que tirou o Ceará da barbárie e inaugurou o processo civilizador no sertão. Mas como é cânone nos enredos de mitos fundadores, em especial nos que partem de uma trajetória do herói, os mitos de fundação de uma identidade local, até para se legitimarem, também se constituem em comparação ao mito do anti-herói. Neste artigo procuramos analisar tanto a formação deste discurso de constituição do herói redentor do Estado nacional no Ceará, tomando como exemplo a narrativa sobre José Martiniano de Alencar, bem como, paralelamente e dando legitimidade a este, investigamos o discurso do anti-herói, no nosso caso, a família Mourão, ou antes, o discurso da historiografia local sobre a relação de José Martiniano de Alencar com a família Mourão. O primeiro o herói redentor, o segundo a força contrária que o redentor precisou anular para concluir sua missão. Portanto, tomando como objeto de análise a narrativa da historiografia local sobre a família Mourão da ribeira do Acaraú, identificada quase sempre como uma força de contenção ao processo civilizador, analisamos o discurso que se formou entono do personagem histórico José Martiniano de Alencar e da própria família Mourão, no Ceará.