Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século seguinte, o Nordeste do Brasil vivenciou o fenômeno social do cangaço. Os cangaceiros eram de um modo geral, jagunços que começaram a atuar de forma independente, ou seja, não mais obedeciam aos mandos dos coronéis, apesar de alguns ainda contarem com a ajuda e os favores destes em troca de armas e mantimentos, como forma de garantir a sua sobrevivência. Quando não, optavam por outra forma de fazê-lo: saqueando, roubando, matando ou chantageando os grandes fazendeiros e poderosos da região. Vários jornais noticiavam os desmandos, as crueldades, ficando claro em suas páginas o medo desses grupos que continuavam a agir livremente, pois o destacamento militar da época não conseguia por fim ao banditismo. Um desses jornais foi o cearense A Esquerda, que tinha como diretor o quixadaense Jáder de Carvalho. Tendo isto em vista, o presente artigo objetivou perceber como o cangaço é retratado nas páginas do supracitado veículo. Assim, trabalharemos com as edições que tratam do cangaceirismo no nordeste, em especial no Ceará no período que vai de janeiro a agosto de 1928. Dialogando com vários autores, em especial com Luiz Bernardo Pericás (2010), conseguimos inferir que várias das explicações sobre o fenômeno eram deterministas, onde a fome, a má distribuição econômica, o analfabetismo, entre outros eram motivações para se tornar bandoleiro. Contrastando com as pesquisas recentes que nos indicam que vários dos líderes dos grupos de cangaceiros provinham das oligarquias locais, alguns sendo ex-coronéis. Apesar de disputas entre famílias e/ou grupos políticos locais, aliadas (ou não) à morte de um parente, ser uma das motivações para se entrar para o cangaço.