O simples evocar da palavra 'cidade' suscita uma série de imbricações com as sensibilidades e estas por sua vez com o corpo, no qual se encontra arraigada a nossa mais profunda e subjetiva definição de espacialidade. Não pensamos a noção de cidade sem a presença dos corpos. A cidade se tornou, principalmente na modernidade, o espaço do ajuntamento dos corpos, da aglomeração humana, da multidão. Ocorre que, diferentemente do que à primeira vista se poderia supor, tais sensibilidades não se eternizam em imagens cristalizadas, imobilizadas, enquadradas em um modelo específico ao longo do tempo. Pelo contrário, as nossas habilidades sensoriais são educadas pelo meio social em que vivemos. Demonstrando que, a cada época, mecanismos sociais são criados e significados emocionais e sensoriais também. O objetivo deste trabalho é o de analisar as estruturas sociais e culturais dos usos dos sentidos e sua dinâmica histórica, vinculando-os ao universo do espaço urbano, inserindo-os no conflito das transformações urbanas da primeira metade do século XX na cidade de Fortaleza-CE. A questão fundamental que organiza e norteia este trabalho de pesquisa é a seguinte: Quais foram as sensações, literalmente, de viver em uma cidade durante um período de rápida modernização? Diante disto, faz-se necessário desdobrar tal pergunta em, pelo menos, quatro conjuntos de indagações: Como as sensibilidades podem ser compreendidas como parte das alterações de comportamentos dos corpos na cidade? De que maneira a reforma social e moral, concomitante às transformações urbanas, interviu na concepção das sensibilidades e nos sentidos do corpo? Como a audição, o paladar e o olfato foram expostos em função da modernização dos espaços urbanos? Qual a relevância das sensibilidades na produção das representações sobre a transformação urbana? Acredito que boa parte das fontes para este trabalho encontra-se em suporte onde a emissão de opinião se dava com mais frequência principalmente nas crônicas e nas memórias, editoriais de periódicos (O Povo, Correio do Ceará, Unitário e outros) e revistas (Bataclan, Jandáia) e nas mais singulares como as cartas e os diários.