O que foi visto no Brasil, para dar vazão aos encontros de Medellin e Puebla, foi um descortinar de muitos religiosos voltados à ação popular. Três grandes movimentos destacaram-se como arrancada da Igreja dos pobres no Brasil, sendo eles Pastoral Indígena, Pastoral da Terra e Comunidades Eclesiais de Base (BEOZZO, 1993, p. 125). Porém, dos três grupos as Comunidades Eclesiais de Base ganharam notável papel de destaque nas ações da Igreja, a começar pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Os números volumosos de adeptos davam uma dimensão do corpo que as Comunidades Eclesiais de Base estavam tomando Brasil a dentro. Os objetivos que materializaram uma Igreja do povo dava passos largos em forma de estatística nos Encontros Intereclesiais das CEBs. Parecia uma febre, um novo modelo, um estilo diferente que ganhava novos adeptos quantitativamente, porém sem um medidor de caráter qualitativo de função.
O Ceará tinha sua vida eclesiástica católica seguindo pelo mesmo rumo das diretrizes nacionais. Era preciso, antes de tudo, para que a Teologia da Libertação e por consequência grupos populares, como as CEBs acontecessem, o apoio inicial do bispo. Em agosto de 1973, chega à direção da Arquidiocese de Fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider, grande adepto da linha progressista e libertadora nas práticas sociais da Igreja Católica. Vindo do Rio Grande do Sul, cumulando estudos de licenciatura e doutorado em Teologia Dogmática no Pontificium Athaenum Antonianum, em Roma, este bispo, modificou a face da Igreja Católica no Ceará por um período. Era dado, por ele, aval para que os trabalhos das Pastorais Sociais pudessem florescer nas comunidades afora. Nesse barco de ideias, as CEBs ganhavam volume em adeptos, apesar das linhas teológicas que irão contra o florescimento deste modelo, como relata Leonardo Furtado Sampaio, educador popular, pedagogo e um dos dirigentes desse movimento na Paróquia de Antonio Bezerra nos anos 1980.
Em sua metodologia de aplicação, a Teologia da Libertação começava pelo entendimento do homem como um ser total, um ser cheio de complexidades e caminhos, bem como um ser que, sendo criado por Deus e sendo sua imagem e semelhança merecia ter direitos e dignidade na sua vida cotidiana. Contrária à dignidade humana seria o preconceito social, racial, étnico, de gênero e a destruição do meio ambiente em seu redor, causas chave e eixo de um desencadear de interpretações e contextos diversos que passavam por lutas de menos favorecidos, sistema político de governo e suas afetações em emprego, saúde, educação, moradia, terra e infraestrutura básica de vida para as comunidades. A Teologia da Libertação instala-se nestas configurações de necessidade e constrói a face do Cristo bíblico nos oprimidos.