Ao longo dos tempos, a história das sociedades baseadas na cultura escrita tem-se caracterizado pela produção de documentos. Durante o período histórico marcado pela gestão governativa portuguesa nas colônias, por exemplo, foram utilizados diversos modelos documentais para fortalecer a otimização do serviço burocrático e para garantir registro, conservação e comprovação de atos jurídico-administrativos. Especificamente no Ceará dos séculos XVII a XIX, conforme indicam os catálogos do Arquivo Público do Estado do Ceará e documentos publicados em revistas do Instituto do Ceará, circularam na região várias espécies documentais. Dentre elas estariam: decreto, regimento, alvará, requerimento, termo, ordem de lei, portaria, edital, provisão, nomeação, ofício, patente, certidão, atestado, bando. Neste trabalho, tratamos do gênero bando, uma espécie documental que percorreu séculos (XIII a XIX), configurando-se, durante distintos períodos históricos, como uma prática discursiva característica de diversos países (Itália, Espanha, Portugal) e colônias portuguesas (Mazagão, Guiné Portuguesa, Angola, Cabo Verde, Açores, Diu, Pangim, Macau, Brasil) e espanholas (Nova Espanha, Peru, Chile, Colômbia). No cenário cearense, a produção do bando tinha como propósito a enunciação de ordens estabelecidas pela autoridade suprema da capitania e depois província do Ceará. Depois de produzido em folha avulsa e registrado em códices documentais, o bando era lido em voz alta e fixado em locais públicos das povoações para que a todos os membros da sociedade colonial chegasse o conteúdo do manuscrito e não se pudesse alegar ignorância quanto ao ato jurídico-administrativo nele documentado. O trabalho de edição e estudo linguístico-discursivo da espécie documental bando apresenta contribuições a diferentes áreas especializadas, como, por exemplo, à História Social, dada a (re)visitação de fatos sócio-históricos a partir de fonte documental; à História do Direito, dada a especulação da natureza dos decretos publicados e das sanções estabelecidas no documento; às Ciências Sociais, dada a análise da instituição de relações sociais assimétricas descendentes a partir da afirmação do poder de voz de uma instância superior frente a instâncias inferiores em função da prática de leitura pública do documento; entre outras.