Esta pesquisa investigou como a Imprensa abordava a relação estabelecida entre os jangadeiros cearenses e o presidente Getúlio Vargas e, ainda, com o Trabalhismo durante as décadas de 1940 e 1950, período no qual foram realizadas três viagens reivindicatórias pelos trabalhadores da pesca artesanal: 1941 de Fortaleza ao Rio de Janeiro, 1951 de Fortaleza a Porto Alegre e 1958 de Fortaleza a Buenos Aires, tendo esta última, ocorrido após o suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Objetivou-se apreender por meio das notícias veiculadas pela Imprensa escrita como esta relação se estabelecia, pois na maior parte das vezes ela concretizava-se apenas nos momentos dos "raids" ou quando um desses intrépidos heróis ia ao encontro do Presidente, como no caso em que no ano de 1951, Jerônimo foi sozinho e de forma anônima pedir em nome de seus companheiros jangadeiros a substituição do delegado de pesca do Ceará. O Unitário, jornal de grande circulação em Fortaleza, pertencente ao grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, foi a base principal de nossa análise que até o momento nos permitiu concluir, mesmo que de modo parcial, que o jornal Unitário no decorrer das duas primeiras viagens dedicou um espaço bem maior para divulgar os "raids" dos jangadeiros, noticiando passo a passo as etapas dessas audaciosas empreitadas, como também, todos os encontros de nossos personagens com as figuras políticas do governo trabalhista de Vargas, incluindo o próprio Getúlio Vargas, do que no ano de 1958 quando o jornal fez poucas menções ao "raid", mesmo sendo este último para fora do país, e aos encontros entre os jangadeiros e os políticos ligados ao Trabalhismo. Foi possível também perceber que os jangadeiros cearenses continuavam confiando no presidente Vargas e na via do Estado para solução dos problemas da categoria, apesar das promessas feitas em 1941 não terem sido todas cumpridas. Essa confiança foi ratificada no "raid" de 1958 onde esses trabalhadores da pesca artesanal batizaram sua jangada com o nome de Maria Teresa Goulart, esposa de João Goulart, considerado o herdeiro político de Vargas, que à época era o vice-presidente de Juscelino Kubitschek.