Temos presenciado nas últimas décadas o alargamento do conceito de patrimônio, e é a partir dessa ressemantização das noções de patrimônio cultural que irão se inserir as políticas públicas para o fomento da salvaguarda desses bens. Com essa ampliação, surge a necessidade de se pensar sobre novas formas de preservação desses bens culturais, para além do tombamento, uma vez que este não atende aos anseios demandados pela dinâmica e pelo movimento dos bens intangíveis. O inventário de referências se apresenta como um instrumento de identificação fundamentado em mapear e reconhecer os valores e sentidos atribuídos a determinados bens e práticas sem engessá-los. É nessa perspectiva e através das discussões do Grupo de Estudos e Pesquisas de Patrimônio e Memória (UFC) e do projeto de extensão Inventário de Referências Culturais do bairro Benfica (UFC) que buscamos identificar e documentar as práticas, os usos, as apropriações e os sentidos atribuídos pelas pessoas que estão ligadas direta ou indiretamente aos espaços do bairro Benfica, acabando por constituir referências culturais. Assim, o estudo da Rádio Universitária (Fm 107.9) e da praça João Gentil nos possibilita pensar a miscelânea de discursos (re)produzidos sobre o bairro e suas múltiplas referencias. Esses discursos são constituídos por várias temporalidades, que dialogam entre si, formando imagens diversas sobre o Benfica, possibilitando diferentes leituras sobre o espaço. Entendemos a Rádio como um patrimônio sonoro do bairro, singular por certas características, como sua programação voltada para compositores cearenses, sua não vinculação com a indústria cultural e por voltar-se a um público mais seleto, geralmente universitários. Que tipos de ligações a rádio estabelece entre o bairro e os universitários? Como os ouvintes entendem a rádio? Como ela funciona como espaço de sociabilidade entre ouvintes de bairros diversos, onde chegam seus ruídos? A Praça João Gentil é um local de relevância a ser inventariado, no bairro, por conta dos mais diversos sentidos que são atribuídos à ela e apropriações que dela são feitos. Espaço de lazer; local de rendimento econômico; local onde o sentido gustativo é realçado, tendo em vista a feira e as barracas de comidas típicas, a Praça João Gentil se apresenta nas suas diversas formas e temporalidades como um ponto de encontro de grupos freqüentadores do bairro Benfica. Como as pessoas percebem a praça? Como são as apropriações desses espaços? Como certos eventos representam o bairro? Como metodologia de obtenção de dados, utilizaremos entrevistas, publicações acadêmicas e periódicos.